Sobre o alegado regime de excepção para os salários nas empresas públicas, devo dizer que pertenço ao grupo daqueles que concordam com isso, pois as vantagens são várias.
Em primeiro lugar, colocar a decisão sobre o valor e as pessoas a quem reduzir salário ao juízo da administração contribuirá para espicaçar a malta. Discutir porque é que o Antunes da Contabilidade (que tem um salário menor) foi mais penalizado que a Cátia Vanessa dos Recursos Humanos é sempre salutar para aumentar o diálogo entre trabalhad….empregados. Vai também dar azo a coloridas manchetes no Correio da Manhã durante meses a fio.
Em segundo, o dogma de que empresas públicas são diferentes da administração pública ajuda a consolidar a ideia de funcionários públicos de primeira e de segunda. E pensar que más línguas apontam apenas como único desígnio de empresas públicas como uma Refer, Ana, Estradas de Portugal ou a Parque Escolar o serem apenas um esquema para reduzir a dívida pública declarada.
Por último, o melhor argumento para excepções: evitar a fuga de funcionários valiosos. Faz sentido! Quantos amigos que nós conhecemos que trabalham no Sector Empresarial do Estado (SEE) que não nos contaram já de directores que mal sabem abrir um e-mail e trabalhar em Excel (com sorte só se for a versão em português). Por isso, acho que qualquer empresa privada daria sangue e lágrimas para ter nos seus quadros alguém que chega a director nestas condições (só pode ser altamente talentoso noutras áreas). Pelo que se não existirem ajustes, antecipo uma fuga em massa de pessoas que ganham actualmente uns 3000 ou 4000 Eur no SEE para o sector privado ou mesmo fuga de "talentos" para o estrangeiro se lhes reduzirem o salário em 10%. Eu por exemplo, admiro-me bastante como aquele talentoso jovem ex-administrador da PT não emigrou para trabalhar numa Telefonica ou numa T-Mobile.
Além disso é necessário evitar que estas pessoas que dominam na perfeição os métodos de procura de emprego em Portugal se tornem competidores desiguais face ao pobre diabo que teve como escolha apostar numa sólida formação académica e experiência profissional relevante. É que ser filho de alguém, ou frequentar o Largo do Rato ou a São Caetano à Lapa suplanta todos os outros métodos.
Será então que podíamos fazer estes cortes de uma maneira mais eficiente e transparente? Sim, claro que sim. Mas não era a mesma coisa. E não seria também Portugal.
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