quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Os malefícios do optimismo

Há já alguns meses descobri uma interessante abordagem sobre os perigos do excesso de Optimismo. Para quem esteja interessado, o link da apresentação intitulada “Smile or Die” está aqui. Tomando a perspectiva dos Estados Unidos, a autora pergunta-se pois sobre qual o mal de pensar que está tudo óptimo e que se pode mudar o mundo com o nosso pensamento. Um dos males que isto traz é a ilusão e o alheamento da realidade. E mais, torna-se um ambiente e uma sociedade que penaliza quem pensa e alerta para os problemas potenciais. Uma das alternativas que ela aponta é pois….Realismo. Tentar perceber o que de facto está a acontecer e ver realmente o que se pode fazer a esse respeito.   

Transpondo de certa forma para a realidade portuguesa este raciocínio, o que assistimos nós? Vemos um governante que na melhor das hipóteses parece ter um patologicamente elevado nível de optimismo (para mim passa mesmo por problemas psicológicos de negação da realidade e dupla personalidade). O mais alto representante da nação também alinha pela mesma bitola, se bem que num estilo diferente e um pouco mais moderado. E verificámos há um ano atrás que uma dirigente partidária que fez um discurso mais realista (e que cujas previsões infeliz mas previsivelmente se concretizaram) foi achincalhada e acusada de pessimista inveterada.

É este o país que temos. Uns a dizerem que estamos bem e que não precisamos de ajuda nenhuma. Outros dizem que temos só de fazer bem os trabalhos de casa. Mas objectivamente o que se assiste é que os principais “responsáveis” se mostram de forma inexorável uns completos incapazes para fazerem o que deve ser feito a bem de Portugal. Mas alguém com raciocínio crítico pode acreditar que os responsáveis pelas nossas finanças irão atingir de forma adequada os objectivos orçamentais a que estamos sujeitos? Se mesmo ontem um membro do Governo declarava com regozijo no Parlamento que a Despesa Pública segue a desacelerar o seu ritmo de crescimento. Lembra aqueles alunos que chumbo após chumbo se vão justificar aos pais dizendo: “sim pai, reprovei, mas as minhas notas têm vindo a subir paulatinamente…”.

Temos um Ministro das Finanças que diz uma coisa e o seu oposto em intervalos de tempo cada vez mais curtos (e com consequências gravíssimas em todas elas). Um Primeiro-Ministro que me abstenho de adjectivar a sua competência e resultados. E um Presidente da República que se entretém a tentar explicar de forma falaciosa ao Obama (e por inerência a todos nós) que Portugal está em melhor situação que a Irlanda (focando-se no curto prazo e esquecendo o quão pior está Portugal no médio e longo prazo). É crível acreditar que o futuro irá mudar para melhor com estas pessoas cujo passado e resultados falam por si? É que há uma coisa que nós humanos (e também os “mercados”) valorizam muito nas relações: confiança! É tão simples como a história do pastor e do lobo: tanta vez mentiu, que quando disse a verdade ninguém acreditou. A minha dúvida é pois como classificar quem acredita que estes “responsáveis” vão conseguir/querer reduzir a despesa pública e implementar reformas que tenham impacto positivo no nosso crescimento potencial a médio prazo. Optimismo ignorante talvez…..      

1 comentário:

Nuno Vaz da Silva disse...

Muito bem!
Subscrevo e vou partilhar!