Provavelmente nunca se saberá (aliás, como convém) onde teve origem o boato/noticia da escassez de açúcar no mercado português.
Terão sido estatísticas? Fugas de informação? Passa-palavra? Ou terá sido uma forma espectacular de incrementar as vendas?
O que se sabe é que, de um momento para o outro, começou a corrida ao açúcar e os stocks esgotaram. Mesmo quem não precisava deste bem, correu às lojas para aumentar as reservas caseiras.
Então, porque é que isto aconteceu?
De um ponto de vista lógico, Natal é sinónimo de doces e sem açúcar não há doces. Logo, para muitas pessoas, não há Natal sem açúcar. Se os boatos surgissem em Setembro ou Outubro, dificilmente teríamos falta desta matéria-prima mas, por algum motivo, foram divulgados em Dezembro!
Nenhuma campanha publicitária teria um maior impacto nas vendas das empresas produtoras e distribuidoras de açúcar. Aposto até que, se essas campanhas tivessem a participação de personalidades mediáticas como Ronaldo ou Mourinho, os resultados não teriam sido tão espectaculares.
O comportamento de rebanho que motivou esta ruptura de stocks deve dar que pensar às grandes empresas publicitárias e aos criativos de conteúdos. Primeiro porque não tem muita racionalidade e em segundo lugar porque dispensa gastos de milhões de euros. Por outro lado, as empresas (e mesmo os partidos políticos) deveriam ter nos seus quadros experts na criação destes movimentos de massas. A veiculação da notícia certa no momento exacto pode ser, nos dias de hoje, fundamental para obter sucesso nos negócios ou mesmo para ganhar eleições (como pode levar ao fracasso se for a noticia errada no momento critico). O Marketing tradicional não pode ficar alheio a estes golpes de mestre!
Claro que no caso do açúcar tivemos vários factores conjugados: Timing perfeito, produto homogéneo, bem de consumo, notícias alarmantes e uma ou outra loja vazia. E de nada serviram as reportagens televisivas que mostraram grandes armazéns cheios de açúcar e barcos de várias toneladas deste produto a descarregar em Portugal.
Será isto uma grande teoria da conspiração? Estou certo que não! Mas é sem dúvida uma “forma de comunicação” que, não sendo inovadora, produz resultados surpreendentes!
O que aconteceria então se idênticas noticias ou boatos tivessem sido divulgados acerca do bacalhau, da farinha, das passas ou do espumante? Provavelmente o resultado seria semelhante. No entanto, só funcionaria se a teoria fosse aplicada a estes produtos de forma disjuntiva. No caso do açúcar, a ver vamos se a febre consumista ficará por aqui ou se iremos assistir também à corrida aos pacotinhos distribuídos nos cafés (para mal de muitos coleccionadores). É que não sabemos como se iniciam estes movimentos mas mais difícil ainda é saber onde acabarão…
1 comentário:
Eu apostava mais em práticas desonestas dos duopolistas que dominam o mercado português (Sidul e RAR). Cheira a cambalacho. Mas pode ser que daqui a uns meses ou anos a Autoridade da Concorrência esclareça o que aconteceu.
Enviar um comentário