Lembro-me como se fosse ontem o dia em que se confirmou que um dos mais altos governantes do meu país, eleito pela população, se ia demitir porque lhe tinham oferecido um lugar mais do seu agrado na União Europeia. E saiu tão depressa que se calhar nem tempo teve para limpar o gabinete, quanto mais garantir uma transição o mais suave possível de modo a não prejudicar o seu empregador. Admito que palavras como desertor, judas, cobarde, egocêntrico ou irresponsável foram por mim usadas de forma mais repetida durante esses meses para descrever esta situação.
Só dava por mim a pensar que a função que ele tinha trocado o seu país não mais era do que uma espécie de concierge da UE, e que nada de positivo isso traria para o país (mesmo sem pensar a quem ele tinha deixado o seu posto em Portugal, porque isso dava tema para outro post). Porém, eu estava num lado minoritário, pois a maioria dos portugueses exaltava com a honra e a importância que teria para Portugal ter um português num alto cargo deste tipo na UE. Mas os anos passaram, e acho que agora com a devida distância, é possível fazer uma avaliação mais ponderada.
Os tempos atribulados que vivemos têm mostrado a importância da sua acção no seio da EU, conjuntamente com os seus igualmente poderosos colegas belga e inglesa respectivamente, e como Portugal tem beneficiado do seu trabalho na UE. Para quem argumentava que o seu cargo não tinha nenhum poder executivo e era algo meramente representativo (e equiparado a um presidente da ONU, cujo raio de poder é difícil de descrever), os anos que já passaram deram oportunidade suficiente para consolidar o balanço que a decisão deste indivíduo teve para Portugal. E o balanço é tão inequívoco que nem vale a pena acrescentar mais nada.
2 comentários:
O mais engraçado é que prevejo uma forte disputa nas primárias entre o Prof. Marcelo e o Dr Barroso para sucederem ao Prof. Cavaco daqui a 5 anos...
Há-que reconhecer que o Dr. Barroso teve a "coragem" de abandonar o país mas ele apenas foi a pessoa que desempenhou o papel de pivot em nome de Portugal. É que, se estudarmos um pouco de ciência politica, verificamos que depois da Itália ter assumido a presidência da comissão, poucos mais países poderiam disputar connosco essa liderança (teorema do votante mediano). Não precisava era de ter sido o primeiro ministro a ocupar esse cargo.
Mas, como os portugueses, por norma, não querem saber destes jogos politicos, o Dr. Barroso ainda será aclamado como PR....tal e qual um D. Sebastião que surge do nevoeiro!
Eu sei que vai ser a nossa sina assistir ao retorno desses dois...esses dois, a Portugal para disputarem a Presidência de Portugal. O senhor das contas do PIB e o que tornou Santana Lopes primeiro ministro de Portugal.
Imagino uma feroz desgarrada para ver quem foi aquele que se marimbou menos para o país.
A minha esperança é que um adquira nacionalidade Belga e o outro Sudanesa, e isso nos salve a mais essa ignomínia de os ter de gramar de novo.
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