quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Estás enrascado? Então cria um incidente!!


Não há nada como a existência de um incidente para afastar a agenda mediática dos assuntos realmente importantes.

Quando Telma Monteiro perdeu no seu primeiro combate de judo nos Jogos Olímpicos, houve dezenas de notícias sobre o tema, centenas de comentários e seguramente milhares de publicações nas redes sociais. À parte de alguns comentários de conforto, a maioria das publicações criticava os atletas portugueses e a forma como os preparamos para competir à escala olímpica. No entanto, passados 2 dias já poucos se lembram do combate de Telma Monteiro. Bastou que uma outra atleta luso-brasileira tivesse protagonizado um incidente ainda mais mediático (falo da velejadora Carolina Borges-Mendelblatt), com a sua renúncia à competição.

Mas estes episódios não ocorrem apenas no desporto. Com o caso da licenciatura do Dr. Miguel Relvas, a atenção mediática deixou de ser direcionada para as políticas do Governo na saúde, na administração pública ou mesmo na justiça. O mesmo sucedeu com o discurso do Dr. Passos Coelho e a sua expressão “estou a lixar-me para as eleições”.
Para o comum dos portugueses é mais importante noticiar se preparamos bem os atletas e como poderemos melhorar a nossa eficiência olímpica do que multiplicar a noticia de uma atleta que se recusa a competir. Da mesma forma, o processo de licenciatura de um político ou um comentário mais brejeiro não deve sobrepor-se às políticas de um país!

A atenção mediática dos assuntos menores (o que não quer dizer que não sejam também eles relevantes à sua escala), sobrepõe-se quase sempre ao mediatismo dos temas realmente importantes e que têm impacto directo nas nossas vidas. Como os políticos sabem isso melhor do que ninguém, não há nada melhor do que criar um incidente ou fazer um discurso com uma expressão menos institucional para redireccionar a atenção dos jornalistas, dos bloggers e do público nas suas divulgações virais em redes sociais.

Somos um país de voyeurs compulsivos e raras são as pessoas que nesta avalanche de mediatismo consegue distinguir o trigo do joio que é como quem diz, distinguir os factos relevantes das cusquices criadas para colocar uma névoa nos factos relevantes! 

2 comentários:

Pedro Antunes disse...

Nuno, achas mesmo que é uma questão nacional? Não vejo grande diferença face a qualquer outro país!!

Nuno Vaz da Silva disse...

Sim, tens razão que é uma questão que se passa não apenas em Portugal. Não sei é se a maquilhagem mediática influencia tanto os cidadãos de outros países como o faz em Portugal.
Mas que é uma estratégia de accção politica e de "resolver" problemas, disso não tenho a menor dúvida!

Abraço!