Não há nada como a existência de
um incidente para afastar a agenda mediática dos assuntos realmente
importantes.
Quando Telma Monteiro perdeu no
seu primeiro combate de judo nos Jogos Olímpicos, houve dezenas de notícias
sobre o tema, centenas de comentários e seguramente milhares de publicações nas
redes sociais. À parte de alguns comentários de conforto, a maioria das
publicações criticava os atletas portugueses e a forma como os preparamos para
competir à escala olímpica. No entanto, passados 2 dias já poucos se lembram do
combate de Telma Monteiro. Bastou que uma outra atleta luso-brasileira tivesse
protagonizado um incidente ainda mais mediático (falo da velejadora Carolina Borges-Mendelblatt), com a sua renúncia
à competição.
Mas estes episódios não ocorrem apenas no desporto. Com o caso da
licenciatura do Dr. Miguel Relvas, a atenção mediática deixou de ser direcionada
para as políticas do Governo na saúde, na administração pública ou mesmo na
justiça. O mesmo sucedeu com o discurso do Dr. Passos Coelho e a sua expressão “estou
a lixar-me para as eleições”.
Para o comum dos portugueses é mais importante noticiar se preparamos
bem os atletas e como poderemos melhorar a nossa eficiência olímpica do que multiplicar
a noticia de uma atleta que se recusa a competir. Da mesma forma, o processo de
licenciatura de um político ou um comentário mais brejeiro não deve sobrepor-se
às políticas de um país!
A atenção mediática dos assuntos menores (o que não quer
dizer que não sejam também eles relevantes à sua escala), sobrepõe-se quase
sempre ao mediatismo dos temas realmente importantes e que têm impacto directo
nas nossas vidas. Como os políticos sabem isso melhor do que ninguém, não há nada melhor
do que criar um incidente ou fazer um discurso com uma expressão menos
institucional para redireccionar a atenção dos jornalistas, dos bloggers e do público
nas suas divulgações virais em redes sociais.
Somos um país de voyeurs compulsivos e raras são as pessoas que nesta
avalanche de mediatismo consegue distinguir o trigo do joio que é como quem
diz, distinguir os factos relevantes das cusquices criadas para colocar uma
névoa nos factos relevantes!
2 comentários:
Nuno, achas mesmo que é uma questão nacional? Não vejo grande diferença face a qualquer outro país!!
Sim, tens razão que é uma questão que se passa não apenas em Portugal. Não sei é se a maquilhagem mediática influencia tanto os cidadãos de outros países como o faz em Portugal.
Mas que é uma estratégia de accção politica e de "resolver" problemas, disso não tenho a menor dúvida!
Abraço!
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