terça-feira, 6 de novembro de 2012

Obama, Romney e a Europa


Hoje é o grande dia, vota-se nos EUA! Costuma-se dizer que o rumo da história é influenciado de modo directo pelo resultado das eleições norte americanas. Todos têm uma opinião e um candidato preferido. Mesmo quem vive na Europa, nunca esteve nos EUA e desconhece tudo sobre a cultura norte americana, estaria provavelmente disposto a pagar uns 5 euro para poder votar nestas eleições.

É por isso ainda mais incompreensível que na Europa ainda não elegemos o nosso “Presidente”! Se conseguimos obter uma ligação emocional tão forte em relação aos resultados das eleições nos EUA, com certeza que a maior parte dos cidadãos da União Europeia receberiam de braços abertos a possibilidade de eleger o Presidente da UE. Não me digam que emocionalmente e culturalmente estamos mais distantes da França, Itália ou Espanha que dos EUA, porque não acredito!

Ter um presidente Europeu democraticamente eleito pelos cidadãos da UE é a forma mais eficaz de garantir que a integração económica e política da Europa será completa. E com certeza que o nosso bem estar depende muito mais das boas políticas implementadas pelos líderes Europeus, que das mudanças de humor to Tea Party, das flutuações eleitorais do Midwest e das diferenças entre o “Obama Care” e o “Mitt Care”.  

12 comentários:

José Lapalice disse...

Acho pouco provável existir um presidente europeu com poderes efectivos a falar para os seus eleitores através de tradutores.

E mesmo que seja um poliglota (no mínimo em inglês, alemão, francês, espanhol, italiano, uma língua nórdica e outra eslava), não acho que seja realista. Nem no médio prazo, nem no longo prazo, nem nunca.

Aliás, país Basco, Catalunha, Escócia, Bélgica mostram que a tendência vai é para que existam mais presidentes na Europa.

Pedro Antunes disse...

Paulo, concordo contigo e até acho que isso levaria a uma integração mais rápida da Europa.
Mas o Lapalice tem razão. Teria de ser alguém que conseguisse incorporar o que é ser Europeu (não acho que seja a questão da língua a mais relevante), e isso ainda ninguém sabe o que é!

Paulo Santos Monteiro disse...

Discordo com o Lapalice em relação a lingua como um obstáculo, por diversos motivos:

1. hoje em dia e sobretudo no futuro (legislamos hoje sobretudo a pensar no futuro) o inglês é a língua comum. Por exemplo, Mas'Colell (actual "ministro das finanças" da catalunha, a favor da independência da catalunha e conceituado economista defende que numa catalunha independente, o inglês deveria ser lingua oficial)

2. um candidato ao posto de presidente da Europa deveria falar varias linguas da UE (pelo menos 3), assim um bocadinho como o Papa.

3. os EUA hoje tem de facto duas línguas oficiais (Espanhol e Inglês, e isso não diminui a representatividade do seu presidente).

Em relação aos "novos" nacionalismos:

1) tal é perfeitamente compatível com maior integração Europeia, de acordo com o princípio da subsidariadade que desde sempre foi um pilar fundamental da construção da Europa.

2) estes nacionalismos surgem agora em parte como uma reação à falta de integração europeia e consequente necessidade por parte dos cidadãos europeus de berrar forte pelos seus direitos. Seria muito melhor encontrar um equilibrio cooperativo, e uma maior representatividade democrática das instituições europeias serve este objectivo.

Concordo com o Pedro, um candidato "carismatico" e portanto elegível teria que ser um verdadeiro Europeu.

Pedro Antunes disse...

Paulo, tenho a impressão que, a nível federal não existe língua oficial. Só a nível estatal é que alguns definem o inglês, outros o inglês e espanhol para o estado individual.
Não estou a ver um alemão ou um francês a aceitar o inglês como língua oficial, até porque no território Europeu há mais pessoas a falar alemão (native) do que inglês!

José Lapalice disse...

O inglês é comum é. Qualquer pessoa que vá à Alemanha, e se dirija a um posto de informações a perguntar algo em Inglês, com mais de 50% de probabilidade vão-lhe responder em Alemão.

Eu não vejo uma Itália com inglês como língua oficial como algo exequível. Idem para França, Alemanha, Espanha, Polónia. Isto só pensando nos países com mais população.

A comparação com os EUA não é grande comparação. Aceito que se pegue no modelo suiço que tem 4 línguas principais. E mesmo aí, 60% têm alemão como língua nativa e 20 e tal % o francês. Isso torna relativamente fácil o bilinguismo.
Na UE, se formos repartir o peso de cada língua, vamos ter uma grande dispersão.

Trocar uma moeda, passar de marco para euro, é algo que até um analfabeto consegue fazer. Agora, mudar de língua, demora muitos séculos e normalmente só é possível à cacetada.

Ps: e falar várias línguas não é fazer como o papa (que provavelmente lê transliterações) nem como este senhor aqui: http://www.youtube.com/watch?v=YcapwtibKy8

Ps2: o que é um verdadeiro europeu?

Pedro Antunes disse...

Eu falei em o que é ser Europeu, qual é o mínimo denominador comum de ser Europeu! Na Europa (ocidental) temos de comum o belicismo interno quase permanente até 1945 (ou melhor a aversão a esse belicismo), a ideia de princípios universais, o ideal de Democracia e uma noção que no fundo temos muito em comum... seja ou não verdade! É isto suficiente para criar a ideia de ser Europeu?

Tal como na Europa nos EUA temos muitas culturas, por vezes tão diametralmente opostas como na Europa (Massachusetts versus Alabama). A língua ajuda à coesão nacional, mas a história e a noção de "comunalidade" é mais importante (mesmo quanto a comunalidade é falsa - um Bostoniano está mais próximo de um Francês do que de um redneck - ou a história conflituosa).

José Lapalice disse...

É mesmo isso. Na Europa temos um belicismo interno quase permanente. Este maior período de paz é que é uma excepção. Que convém não ser estragada ao tentar forçar uma solução federalista, cujo resultado é previsível: guerra. Com a Alemanha de novo no epicentro.

Pedro Antunes disse...

Lapalice, por acaso eu acho que a aversão ao belicismo que nos caracterizou como continente até 1945 é que temos em comum, não o belicismo em si! O cenário de guerra está muito mais longe do que o cenário de federalismo...

E se nisso não acreditares basta olhar para os gastos em material bélico:
http://en.wikipedia.org/wiki/Military_budget
Guerra na Europa é hoje um dos cenários menos prováveis!

José Lapalice disse...

Tu usas esse indicador dos gastos bélicos. É válido.
Eu olho para o aumento do peso dos partidos de cariz nacionalista. Em países como França, Grécia, Hungria, Finlândia.
Não digo que a guerra hoje seja um cenário provável. Mas se se avançar para uma proposta federalista, aí sim.

Pedro Antunes disse...

Lapalice,

É verdade que o nacionalismo tem tido alguma subida, mas os eleitores têm vindo a corrigir essa questão. Olha o caso da Holanda. http://en.wikipedia.org/wiki/Dutch_general_election,_2012
Os partidos mais democráticos subiram. Wilders caiu! É só um caso, é verdade, mas parece-me que quando começar a recuperação e estabilização Europeia se vai generalizar. Mas é apenas uma convicção.

José Lapalice disse...

Mas eu também acredito que uma europa mais estável, diminuiem os nacionalismos.
Agora, a minha convicção é que federalismo é algo impossível na UE com estes 27 países.

Paulo Santos Monteiro disse...

Olá Lapalice,

reproduzo aqui o meu comentário a um post do Carlos, porque também é relevante para esta nossa conversa:

"Olá Carlos,

quando escrevi o meu post, referi o cargo de Presidente da UE, para estabelecer o paralelo com o Presidente dos EUA, mas apenas por uma questão de forma. Para já, não tenho nenhuma opinião forte sobre que tipo de regime seria preferível, parlamentar ou presidencial.

Mas o que acho que é muito importante, é o aumento consideravel e rápido da representatividade democrática dos decisores políticos da UE, e a responsbilização perante um eleitorado alargado.

Repara que se fala agora em dar poderes à comissão europeia para vetar os orçamentos nacionais. Aceito, que tal pode ser necessário para garantir o bom funcionamento da união económica e monetária. Mas então seria muito importante dotar a comissão de alguma representatividade popular.

Por exemplo, tal poderia ser feito por intermédio do parlamento europeu. Para tal, acho que os diversos grupos parlamentares do PE deveriam apresentar listas conjuntas em toda a UE, e deveriam depois nomear o presidente da comissão europeia.

Acho que tal corresponde a um regime paralamentar. E penso que seria uma reforma exequivel e não do domínio da ficção."