No passado dia 16 de Maio
decorreu mais um Fim de Tarde na Ordem
com o professor Fernando Teixeira dos Santos. O tema da apresentação e debate
centrou-se na convergência e crescimento na União Monetária Europeia (UME).
Enumeraram-se algumas razões para
o estado deficitário em que a UME se encontra, nomeadamente, a ausência de
instrumentos de política comum, a importância do Pacto de Estabilidade e
Crescimento (PEC) em detrimento das políticas económicas, e ainda a ausência de
reformas estruturais que ficaram dependentes da vontade e empenho de cada
estado-membro. Entenda-se aqui que o principal objectivo do PEC é coordenar a disciplina
orçamental para evitar a instabilidade dos preços.
O professor Fernando Teixeira dos
Santos abordou a actual situação económica como resultado de não ter havido um
esforço de convergência comunitária em termos de políticas económicas comuns, o
que aliado às crescentes assimetrias entre os estados-membros fez com que os
mercados financeiros deixassem de ter confiança na recuperação económica da UME.
Ainda assim, importa realçar que os mercados financeiros também são co-responsáveis
pela actual situação, uma vez que não diferenciaram o risco e foram demasiado
permissivos em termos de financiamento, recorde-se o exemplo do subprime.
A dívida, e o consequente default (situação de incumprimento), é a
questão central que marca as agendas políticas da actualidade, mas devemos esclarecer
que o agravamento da dívida privada foi mais significativo que o agravamento da
dívida pública. A descida acentuada das taxas de juro, associada à convergência
para a moeda única, levou a uma diminuição da taxa de poupança nacional e ao
aumento do endividamento.
O professor Fernando Teixeira dos
Santos apresentou-nos um cenário de sustentabilidade futura em que o aumento do
rácio da dívida pública em percentagem do PIB seria de 115 em 2013, descendo a
partir daí até atingir 80 em 2030.
Quando se fala em
sustentabilidade futura em termos económicos temos de considerar quatro pilares
de intervenção: o quadro orçamental, o custo do financiamento, o crescimento económico
e os factores contingentes.
O fluxograma de retoma económica
começa com o ajustamento orçamental, que deverá estar associado ao crescimento económico
e à solidez e estabilidade dos sistemas financeiros. Estas premissas irão
devolver confiança aos mercados, que promovem assim condições de financiamento
com vista à recuperação financeira. Só assim poderemos ter sustentabilidade no
sistema bancário e financiamento, através da desalavancagem e do reforço dos rácios
de capital.
O cenário tem sido negro, com o aumento
do crédito de cobrança duvidosa e a quebra de output, com consequências no agravamento do desemprego e perda de
bem-estar. O potencial de crescimento das economias é positivo para as cinco
economias mais fortes, mas negativo para todas as outras, o que a par da quebra
significativa na taxa de investimento vem reforçar o desemprego estrutural que
não pára de aumentar. Podemos assim identificar como único sinal positivo a redução
significativa do défice externo devido ao acordo com o Fundo Monetário
Internacional (FMI).
O ajustamento orçamental e
estrutural tem elevados custos sociais, mas é necessário. O professor Fernando
Teixeira dos Santos reforça a ideia que a prevenção do risco tem de ter enfoque
no crescimento económico. Não estamos perante uma escolha entre austeridade e
crescimento, pois precisamos de ambos para assegurar a sustentabilidade económica.
Não podemos estar dependentes da procura interna para fomentar o crescimento,
mas sim dinamizar a procura externa, ou seja, uma estratégia de crescimento ao
nível da Europa e dando sinal aos mercados que temos instrumentos de política
comum.
A UME não quer ser uma união de transferências,
mas para isso tem de reforçar a convergência, reduzir as assimetrias e prevenir
crises que exijam recurso a essas mesmas transferências. Exige-se uma governação
económica num quadro de estabilidade financeira; reformas em áreas
estruturantes como o reforço das redes de energia, as telecomunicações e os
transportes; um sistema comunitário de supervisão e apoio às instituições
financeiras; e porque não os eurobonds
(partilha de risco)?
A médio e longo prazo faz sentido
adoptar estas medidas, mas no curto prazo as transferências são mesmo necessárias
para resolver as situações mais críticas.
Esta análise e a sua
aplicabilidade pretendem transmitir um sinal de confiança para os cidadãos, economia
e mercados financeiros, que será o motor de arranque para uma nova Europa de
crescimento e sustentabilidade económica.
3 comentários:
Que grande pena que o Professor Fernando Teixeira dos Santos não tenha usado o seu vasto conhecimento sobre políticas para a UME para ajudar o ex-Ministro das Finanças Fernando Teixeira dos Santos a ter políticas melhores para Portugal.
Concordo com o Lapalice e diria mais:
- A melhor solução para os problemas criados, é evitar que esses mesmos problemas o sejam!
Na posição dele, eu evitaria dar conferências como a descrita!
Fogo... O três de acordo!! Algo está prestes a correr mal... Lol
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