Com o objectivo de compreender a
realidade das sociedades contemporâneas e como resposta à complexidade das
matérias analisadas, tem havido uma gradual aproximação da economia a outras
ciências. Algumas dessas aproximações originaram até Prémios Nobel para
economistas que recorreram à psicologia, à filosofia e à neurologia.
Uma das mais interessantes áreas
de estudo da economia está relacionada com as expectativas como conceito
dinâmico e cada vez mais influente nas decisões de consumo, investimento ou
poupança. Por exemplo, se alguém suspeita que os preços subam amanhã, é natural
que antecipe a sua decisão de consumo para o dia de hoje. Mas se, por outro
lado, essa mesma pessoa prever que no próximo ano a actividade económica tenha
um comportamento recessivo, provavelmente vai optar por não investir agora com
receios do futuro.
Sendo mais concreto, no que diz
respeito às sucessivas medidas de austeridade anunciadas pelo Governo Português,
é previsível que as expectativas dos agentes se retraiam porque têm menos
rendimento disponível, o que origina diminuição do consumo e menor
investimento. Com isso, teremos certamente uma contração da economia.
Mas o maior problema na gestão
das expectativas de uma sociedade (ainda maior do que os orçamentos recessivos)
são as declarações contraditórias e o discurso político incoerente. Por
exemplo, quando um governante afirma que é possível aliviar as medidas de
austeridade num dia e passada uma semana apresenta medidas adicionais de
contenção orçamental, gera-se uma crise adicional de desconfiança. O mesmo se
passa quando são anunciados cortes de subsídios e exactamente no mesmo momento
se afirma que essa medida ainda poderá ser alterada!
A retoma económica necessita de
políticas internas correctas e de um quadro internacional favorável. Mas não
pode haver ambiguidade no discurso nem nas medidas anunciadas sob pena da
recuperação ser mais demorada e penosa.
Dizer que estamos falidos hoje e afirmar
o contrário amanhã, para além de ser um discurso falacioso, defrauda as
expectativas dos agentes e afecta a confiança, factor imprescindível para a
recuperação económica. Ou seja, para sermos um país mais eficiente necessitamos
de boas políticas aliadas a um discurso coerente, verdadeiro e de bom senso!
Nuno Vaz da Silva
Economista
Artigo publicado na edição de 07/11/2012 do Jornal "Alto Alentejo"
3 comentários:
Nuno,
excelente post! E já agora, acrescento que há cada vez mais evidência empírica que o clima de incerteza gerado por estes anúncios contraditórios sobre o rumo das políticas económicas contribui muito para a redução da actividade económica, pelos exactos motivos que descreves.
Obrigado Paulo.
Com a crescente informação e contra informação, a economia moderna passa cada vez mais pela politica anunciada e não apenas pelas politicas implementadas.
Aliás, boa parte da actual crise está intimamente relacionada com as declarações efectuadas por parte de um conjunto de elites politicas e respectivas interpretações dos agentes económicos avessos a um risco que existe mas que tem sido mal gerido...
Completamente de acordo Nuno. Uma das coisas que era interessante analisar, e nisso o sector empresarial é capaz de ter alguma informação relevante, é a velocidade e democratização da opinião! Hoje todos temos algo a dizer e conseguimos ser ouvidos, sem filtros, sem "review" que não dos comentários mais ou menos infantis!
Há várias empresas que criaram fóruns e blogs especificamente para manterem a discussão e crítica perto e aprenderem como a sua mensagem chega aos consumidores. O mesmo devia fazer um governo!
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