Se todas as ocasiões são más para desperdiçar dinheiro, a actual
desaconselha-o com especial veemência. Estando a política orçamental unicamente
preocupada com a redução do défice, o quadro comunitário de apoio assume particular
importância, já que será, a curto prazo, o principal recurso votado ao
investimento público. Embora a discussão dos valores não seja despicienda,
parece-me mais relevante pensar sobre a sua aplicação.
Alcatrão e betão não carecem de mais dinheiro. A inovação merece-o. É preciso
aumentar o valor acrescentado daquilo que o país produz, o que se faz inovando.
Sendo docente do ensino superior, é suspeito sugerir os centros de investigação
universitários. Mas estou genuinamente convencida de que se tem de apoiá-los e
ligá-los às empresas, multiplicando exemplos como os de Aveiro e Minho.
Estratégico é também o turismo. Apesar de investigar o sector, creio não
ser enviesado ver condições ideais – o clima ameno, a óptima e variada
gastronomia, o património histórico-cultural, o povo afável, a vasta costa, a
diversidade da paisagem – para tornar Portugal um conjunto de destinos de
excelência.
Com a maior zona económica exclusiva da União Europeia, temos de
seguir o conselho que a minha mãe me dava na praia: não virar as costas ao mar.
E não estou a pensar só na pesca, embora seja inconcebível que importemos
metade do peixe que consumimos. Estou a apontar para a pesquisa de terras
raras. Ou para a energia eólica em offshore
e das marés.
Falando em energia, planos que visem melhorar a eficiência da sua
utilização também devem ser contemplados. Aliás, a área do ambiente oferece grandes
oportunidades. A crise tirou tempo de antena à questão da sustentabilidade, mas
um tornado em Silves devia lembrar-nos que a sua pertinência se mantém.
Finalmente, citaria a agricultura, sector em que há margem para diminuir importações e aumentar exportações. Mas, sobretudo, apostar nela é uma via para o desenvolvimento do interior e redução das assimetrias regionais.
* Artigo publicado no Diário Económico de 26.11.2012
8 comentários:
100% de acordo. Acho que estes são sectores estratégicos e de elevada rentabilidade. Sobretudo o turismo!
E já agora em relação ao ambiente e turismo, porque não uma campanha publicitária na Europa que destaque o facto que fazer turismo em Portugal, em vez de destinos mais distantes, é a forma mais eficaz para muitas famílias reduzirem a sua "carbon footprint".
Vá para fora cá dentro poderia tornar-se um slogan europeu de promoção do turismo amigo do ambiente!
Excelente artigo, e sobretudo não são ideias no ar, não são propostas vagas, generalizadas, que não dizem nada, são ideias que podem e devem ser aproveitadas e com efeitos imediatos, como por ex. o caso do turismo em que temos todas as infraestruturas e investimentos feitos para receber mais gente, durante todo o ano, para além de tudo o mais temos Lisboa e Porto que são cidades lindíssimas, condições excelentes para a prática do turismo desportivo, temos profissionais com uma vasta experiência nas pescas e no mar, na agricultura devemos apostar em nichos de mercado, com grande valor acrescentado como finalmente se anda a fazer agora (frutos vermelhos, cogumelos etc,) que não precisam de toneladas de produção para serem lucrativas, devíamos também apostar em algumas variadas de fruta típicas e que praticamente desapareceram, enfim, ideias não faltam no artigo. Mas esta gente corta a eito, não percebe que um verdadeiro investimento nunca é despesa, é preparar o futuro...
V.
Perfeitamente de acordo com quase tudo o que escreveste... mas é tão generalista que é impossível discordar!
É que, ao contrário do que escreveu o Miguel, acho que as tuas propostas são vagas. São resultado das centenas de diagnósticos generalistas e quase tudo o que propões se pode dizer que está a ser feito de uma forma ou outra.
- Investir em inovação... isso significa o quê? Uma Portugal Ventures, (que já existe)? O estado a escolher os vencedores (que é o que acontece)?
É que a investigação tem um problema... é feita por investigadores e, até os próprios admitem, estes olham pouco para o mercado...
- O Turismo tem imenso para se fazer, mas não se pode basear como sempre nem no clima, nem na gastronomia, património e afins. Dezenas de países têm clima ameno, gastronomia interessante e património pelo menos tão interessante! Uma forma de nos diferenciarmos seria mostrarmos ao turista que o nosso país é seguro, tem bons hospitais, um serviço de excelência a bons preços.
- Importamos muito peixe porque o nosso mar não é assim tão rico em fauna. Independentemente do quanto olharmos para ele isso não muda. Já dinamizar a piscicultura de viveiro podia ser interessante. Mas não é o estado que tem de o fazer.
Explorar terras raras é bom, mas temos? Nós mal temos um cadastro do que existe em terra... e sem isso ninguém cá investe! E temos algumas petrolíferas a olhar para a nossa costa, as eólicas offshore começam a ser faladas, temos eólicas flutuantes em teste... o mar está mal aproveitado, mas andamos a melhorar!
- A sustentabilidade seria uma boa iniciativa. Temos, mas desperdiçamos, um dos mais avançados modelos de mobilidade eléctrica do mundo!
Pedro,
O texto que aqui coloquei é o que foi publicado no Diário Económico, que me deu a restrição de 2000 caracteres com espaços. Podes fazer a experiência e constatar que é quase nada. Uma boa parte do tempo que me levou a escrever, foi a cortar ideias e a substituir por sinónimos com menos letras.
Das coisas que gostaria de ter dito a propósito do turismo inclui-se o de saúde. Climas solarengos há muitos, de facto. Mas amenos nem por isso. E solarengos, amenos e secos (a humidade é má para quem tem reumatismo) reduz ainda mais a lista. Isto, juntamente com as condições que enumeraste, torna-nos uma potencial Flórida da Europa.
Quanto à investigação, o meu texto é claro: ligar as universidades às empresas. Com o tecido empresarial que temos, não me parece muito viável que sejam as PME a investir em R&D, nem tão pouco eficiente. Nas universidades, podem explorar-se economias de escala. Os investigadores olham para as publicações, porque é isso que interessa às suas carreiras, mas não há qualquer incompatibilidade entre o ISI e o mercado. É preciso sentar os dois lados a uma mesa, afastar preconceitos de parte a parte e pô-los a trabalhar em conjunto. Creio que desse diálogo se gerará inovação, seja na oferta de produtos novos, seja nos processos de produção.
Importamos muito peixe porque, quando a UE criou limites à pesca do bacalhau, os nossos armadores, que tinham essencialmente bacalhoeiros, pegaram nos fundos comunitários para abater as embarcações, em vez de as reconverterem (como fizeram os espanhóis).
E quanto às terras raras, a minha proposta é precisamente a de que se faça um cadastro. Mas olha que o António Costa e Silva está optimista em relação a elas e acha provável a existência, igualmente, de shale gas...
O Estado não tem de fazer aquacultura. Mas tem de permitir que quem quer fazer o consiga fazer e ter licenças em tempo útil para tal.
http://www.esriportugal.pt/files/3813/3785/8470/APAquacultores.pdf
V., o meu comentário não foi no sentido de critica do teu texto em si. Também já tive uma coluna num jornal e conheço a ditadura dos caracteres.
O meu comentário era mais direccionado ao Miguel, que me pareceu excessivamente satisfeito com o grau de detalhe.
Relendo o meu comentário percebo porque não foi entendido assim! Sorry! :)
Lapalice,
O que achas que quero dizer com "dinamizar a piscicultura"?
Percebi Pedro, mas foi só no sentido de reforçar a importância de diminuir os entraves que o Estado coloca a esta indústria em Portugal.
Em abono da verdade, o Estado português coloca entraves ao licenciamento de todo o tipo de indústrias.
Parece-me ser uma boa adenda ao que escrevi sobre o mar.
http://economico.sapo.pt/noticias/canadiana-nautilus-pede-ao-governo-luz-verde-para-explorar-minas-nos-acores_157650.html
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