quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Não será um golpe no ideal feminino moderno?


Não é uma afirmação. É mesmo uma pergunta às nossas coautoras do blog e leitoras.

Hoje pede-se algo inumano às mulheres. Têm de ser profissionais como os homens, mães como as mães delas o foram, gestoras de casa... e ao mesmo tempo terem capacidade para exigirem uma partilha de responsabilidade com os seus maridos, companheiros, parceiros (machos ou fêmeas). E elas - muitas - conseguem!

Aos homens pede-se algo impossível. Têm de ser homens com “H” grande e sensíveis. Machos e metrossexuais. Ganhadores do pão, mas apoiantes da carreira da mulher. E eles - começam - a conseguir! 

Somos mesmo uma espécie admirável!

Claro que nada disto é assim tão impossível, desde que haja uma efetiva partilha de responsabilidades entre o casal, ou uma divisão de tarefas, respeito entre os dois... aquelas coisas básicas de ser adulto!

Mas eis que nos aparece o caso da Ministra Assunção Cristas (MAC). Três filhos, super-Ministra... É de admirar a sua capacidade... sem ironias.

Uma pessoa quando aceita um cargo que exige tanto como o de “Super” ministro(a), sabe que isso vai ter custos pessoais. Se tem filhos, família, cães, o que for, sabe que durante uns putativos 4 anos terá menos tempo para se dedicar a eles... e como quantidade não é qualidade, isso é possível.

E como hoje em dia engravidar é algo que se planeia. Será razoável que um Ministro apareça a 2,5 anos do fim do seu putativo mandato a dizer que vai ter de tirar uns meses para ter uma criança... sem se demitir?
E escrevo MinistrO para não particularizar na MAC nem no género feminino, apesar de achar que se fosse um homem caia o Carmo e a Trindade!

Claro que temos muito pouco ou nada a ver com a decisão de Assunção Cristas. Enquanto indivíduo decide como quer, juntamente com o seu companheiro, ou não. Mas ela comprometeu-se com um trabalho, que não vai poder executar durante alguns meses, para uma projeto pessoal completamente planeável.

Se um Ministro (homem) aparece-se a dizer algo equivalente seríamos nós tão lenientes? Não é isto uma total falta de planeamento familiar e profissional? Não é isto dizer aos Portugueses... lamento, mas em vez de adiar algo perfeitamente planeável, ou de me demitir para enveredar num projeto pessoal, vou meter umas “férias” do cargo POLITICO que ocupo?
E dizer que os Secretários de Estado estão qualificados para ocupar o lugar por uns potenciais 6 meses não é dizer que a MAC é dispensável no cargo?

Atenção, não estou a fazer nenhum juízo de valor à decisão da MAC, excepto que me parece pouco aceitável a atitude "light" com que um Ministro entra num projeto pessoal em pleno mandato e plena crise... num Ministério tido como estratégico e onde pouco se vê crescer!

8 comentários:

V. disse...

"E como hoje em dia engravidar é algo que se planeia." A meu ver é aqui que reside a falácia do teu argumento. Hoje em dia engravidar é algo que se pode, com um bom grau de segurança, planear. Mas o ideal feminino moderno não implica que se veja a gravidez como um projecto com calendarização.
Posto isto, acho que o que se deveria discutir é se a Assunção se deveria demitir. Ela comprometeu-se com um Ministério, certo; tal como as médicas se comprometem com hospitais, as professoras com escolas, as bancárias com os bancos e por aí fora. E todos acharíamos ultrajante que essas mulheres fossem obrigadas a demitir-se, não é?...

Pedro Antunes disse...

V.

Quanto ao planeamento fazer parte do ideal feminino, no abstracto não faz, concordo, mas se te comprometeste a um cargo político... não é profissional não o calendarizares para pelo menos depois do teu compromisso! E do ponto de vista probabilístico, utilizando contracepção, é altamente improvável engravidar sem se querer!

Como não seria se alguém (nota que não limito ao género feminino) aceitasse um cargo elevado numa empresa (direcção ou presidência) e depois decidisse ter filhos.
Não é o mesmo que alguém se comprometer com um hospital. O grau de substituição é diferente. A aposta na pessoa também!

Dito isto também concordo contigo que a discussão é mais se ela se deve demitir. Pedir a uma enfermeira (enfermeiro) para se demitir é inaceitável. Há um quadro legal para isto. Já um(a) CEO ou um alto cargo político me parece uma arena diferente! Não achas?

E nota, V. para mim homem ou mulher a discussão é a mesma! Decidir entrar num projecto pessoal - que é o que significa ter filhos - mesmo quando se tem esse direito, quando se está a menos de metade do comprometimento, é pouco profissional.

V. disse...

Não, não acho. Porque o que estás a dizer é que uma pessoa tem de escolher entre a carreira e a vida pessoal. E é com pensamentos desses que as mulheres não são CEO, ministras ou catedráticas.

Pedro Antunes disse...

Quando se aceita um cargo de responsabilidade elevada, especialmente em momento de crise, está-se a escolher entre a carreira e vida pessoal... sempre! Seja homem ou mulher.

Em momentos de "não-crise", esta situação era muito menos problemática, ou a de um CEO, porque a ausência é mais fácil de gerir e não são 4-6 meses que afectam o trabalho.

O facto é que vamos ficar sem ministro daquele(s) pelouros por algum tempo e isso não me parece que a MAC, ou qualquer outro, tenha o direito de o fazer... especialmente de forma tão "light".

José Lapalice disse...

Que grande perda que será para o Ministério não poder contar com todo o know-how e vasta experiência da Assunção Cristas nos domínios das Obras Públicas, Ambiente ou Agricultura durante uns 9 meses ou 1 ano.
A Assunção é uma trabalhadora como outra qualquer. Tem direito como qualquer outra trabalhadora que esteja no quadro a tirar licença de maternidade.
Se ela planeia ou não os filhos que quer ter, se sendo católica opta por ser contra a contracepção, isso é uma escolha dela e do marido dela.
Portanto, caso o governo dure até ao momento em que ela tiver de ir para casa esperar que o petiz venha ao mundo, a solução é ter um ministro interino.

Pedro Antunes disse...

Claro que um Ministro não é um trabalhador como outro qualquer, nem faz parte do quadro da função pública... como é óbvio!

José Lapalice disse...

Ai não é? Então onde é que se define a fronteira? Secretária de Estado? Vereadora de uma câmara municipal? Tesoureira de uma junta de freguesia?

Pedro Antunes disse...

Isso é um disparate. Um ministro, como um Secretário de Estado e um Vereador, são cargos políticos ou de confiança política. Por isso é que não têm contrato de trabalho, não fazem parte dos quadros e podem ser despedidos por capricho.