Saiu no passado dia 7.10 o Boletim Económico Outono 2010 do Banco de Portugal. Tendo em conta os boletins dos anos anteriores, e começando pelo fim, é curioso como nos anos de 2009, 2008, 2007, a cronologia das principais medidas financeiras foi até aos dias 12 ou 15 de Outubro. Em 2010 ficou-se por 15 de Setembro. Curiosa esta mudança, quanto mais não seja porque em 15 de Setembro ainda nem sequer acabou o Verão. E sim, existem medidas financeiras conhecidas até 15 de Outubro que já poderiam ser incluidas. Adiante.
Quando se olha para o valor projectado para o crescimento do PIB em 2011 (0%), e se lê a ressalva (p. 113) de que não tomaram em consideração as medidas orçamentais extra anunciadas em 29.09 por não cumprirem plenamente os critérios de projecção do Eurosistema, duas dúvidas se me levantam:
1º: teria sido clarificador explicitar qual(ais) os critérios de projecção que não permitiram isso (200 páginas dariam espaço). Eu desconfio que é por serem apenas propostas de intenção relativamente a aumentos de impostos, mas pesquisar legislação no site do BCE para confirmar isso está longe da minha noção de divertimento. Assim fica no ar a ideia que isto foi um subterfúgio.
2º: Se a previsão do FMI para 2011 (emitida em 6 de Outubro) já estabelece um cenário para o caso das medidas propostas entrarem em prática, porque razão não fez o BPortugal o mesmo? É que o FMI prevê que o crescimento do PIB seja em 2011 nesse caso de -1,4%.
De que me serve a mim um relatório com projecções para a economia de um país se não toma em consideração medidas anunciadas (porém algumas necessitam de aprovação no Parlamento) que, a serem todas implementadas, terão um impacto tremendo no PIB? No mínimo, mandaria o bom senso que em termos de projecções se trabalhe com vários cenários. Tal como está, para mim, e para todas as entidades financeiras em Portugal e no mundo, a parte dedicada à projecção económica nem vale o papel em que foi impressa. Qual a lógica do FMI dizer a 6 de Outubro que prevê que Portugal vá decrescer em 2011 1,4%, e o nosso Banco Central diz no dia a seguir que não senhor, vamos ter estagnação? É negação da realidade, pura e dura. E depois ainda vêm sugerir “conselhos de sábios” para fazer o trabalho que é deles.
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