Tem-se dito que nós devemos ler (ou reler) muitos dos clássicos de forma a melhor compreender a realidade com que nos deparamos, pois os problemas e o modo de os resolver/contornar repetem-se. No caso da viabilização do orçamento para 2011 em Portugal, não é preciso ler nem um livro. Basta apenas recuar até 1998/1999, quando essas duas picaretas falantes (Guterres e Marcelo) de tão ingrata memória para todos nós, chegaram a acordo sobre como aprovar o orçamento para 1999. Citando este artigo, foi assim que a coisa grosso modo funcionou:
- “Em 1997 e 1998, porque o objectivo estratégico de Portugal era a adesão ao Euro colocou o maior partido da oposição a bordo do grande barco das razões patrióticas, viabilizando assim os orçamentos ainda antes de serem conhecidos.
- Mas à beira do Orçamento para 1999 o grande desígnio estava garantido – Portugal tinha entrada na Eurolândia – e já não havia desculpa para Marcelo aplacar a fúria do seu partido, que não estava a gostar das facilidades dadas ao PS. O líder do PSD, contudo, não queria criar uma crise política.
- Então, numa reunião com Guterres na residência oficial do primeiro-ministro, foi o próprio Marcelo a sugerir a solução: o Governo deveria criar uma medida de que não precisasse; ele, Marcelo, faria campanha contra essa medida, o Governo recuava e assim ele teria um pretexto para a abstenção do PSD.
- E foi assim que nasceu a colecta mínima e a campanha de Marcelo Rebelo de Sousa sob o lema pena máxima contra a colecta mínima.”
Está bom de ver qual é a medida estapafúrdia que o Governo sugeriu para 2011: o aumento do IVA para o leite achocolatado de 6% para 23%, que segundo estimativas daria um aumento de receita de cerca de 16 M euro. Vai ser basicamente sobre estas propostas ridículas de aumento de IVA que girarão as conversas sobre viabilização do orçamento. Aliás, parece ser sina ou piada de mau gosto a importância que os lacticínios têm no orçamento de Portugal. Quem não se lembra dos orçamentos Limianos? Portanto, em jeito de conclusão, tudo o que se está a pensar é um enorme déjà vu de algo que aconteceu faz uma década.
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