As próximas eleições presidenciais prometem ser muito complicadas para a maioria dos eleitores que forem votar. Como foi sempre é hábito, apesar de formalmente os candidatos serem independentes dos partidos, os portugueses sabiam geralmente quais os candidatos que estavam associados a cada partido e às suas ideias, e cada partido apoiava explicitamente cada candidato.
Comecemos pela situação de termos um candidato independente que é apoiado (de forma velada por enquanto) pelo histórico candidato derrotado do PS nas últimas eleições. O PS por sua vez apoia de forma oficial alguém que muitos queriam ter expulso da militância. Mas na verdade o candidato que a liderença socrática de facto quer como presidente é o actual (já sabem com o que podem contar). Em todo o caso, o putativo candidato do PSD, eventualmente do PP (e o desejado/aliado do Governo) continua a sua já repetitiva estratégia de tabus quanto à sua re-candidatura ou não, deixando toda a direita com o perigo de ficar com as calças na mão caso não se candidate.
Quanto à esquerda dos sociólogos, antropólogos e jornalistas, a opção foi jogar na antecipação e dizer que se apoia o candidato poeta (o mesmo que o partido do governo, que eles tanto criticam). Vai ser engraçado de acompanhar esta campanha e a relação entre PS e BE. Palavra final para a esquerda dos operários, que no meio desta bagunça toda, é quem dá uma lição de coerência e estratégia. Como já aconteceu no passado, lançam para a campanha das presidenciais um candidato que só é conhecido pelos membros do Comité Central (e se calhar nem todos), a modos como que um programa de training para outros voos.
Assim neste caso, o eleitor terá de na maioria dos casos ignorar quais os partidos que apoiam cada candidato, pois isso só eventualmente o confundirá mais. Portanto, se os candidatos presidenciais vão ter dificuldades em se colar aos partidos (que podem ser entendidos como a marca), poderia ser necessário definir estratégias um pouco mais elaboradas. E uma vez que há quem diga que vender sabonetes ou eleger um presidente é a mesma coisa, se pensarmos em termos de branding para um candidato a presidente, vemos logo que face ao exposto, a maior parte deles poderia estar num embróglio.
Uma das primeiras coisas a definir numa marca é a quem se destina. Ou seja, trata-se de conseguir definir os vários segmentos e públicos-alvo e suas características. Na minha modesta opinião, existem 3 grandes segmentos de votantes em Portugal: aqueles que desejariam uma menor intervenção do Estado da economia (um público-alvo serão tipicamente empresários ou trabalhadores por conta própria); os que estão contentes com a forma como as coisas têm decorrido (funcionários públicos, reformados com reformas gordas, etc); e os sonhadores de esquerda que julgam que o dinheiro cresce nas árvores mas que-de-cada-vez-que-chegam-ao-governo-são-os-que-fazem-pior. Logo, havendo candidatos que querem dirigir a sua estratégia a mais do que um segmento, em contexto empresarial isso é muito complicado de conseguir.
Felizmente para os candidatos, o eleitor tem um nível de exigência bem menor que um consumidor de sabonetes. Em termos práticos, nada disto será muito problemático, porque em Portugal nunca se discutem grandes ideias, as posições nunca ficam muito claras, e as diferenças entre os dois principais partidos são mínimas. Por isso, e como há um número elevado de troca-tintas, a questão da segmentação torna-se menor. Até porque o presidente, tem de ser o presidente de todos os portugueses, por isso nem convém nada ter opiniões muito claras.
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