Pelos dados da Direcção de Prospectiva e Planeamento do Ministério das Finanças, entre 2000 e 2006 a região do Alentejo registou uma tendência de convergência com a média da riqueza nacional (com uma variação positiva no VAB* de 4.3%), o que seriam óptimas notícias!
Mas, se analisarmos a estatística em detalhe, verifica-se que esta convergência foi conseguida à base de um forte decréscimo da população -4.9% e de uma subida dos preços de 4%, uma vez que a produtividade decresceu igualmente 4%.
Ou seja, uma estatística aparentemente simpática pode esconder aspectos muito negativos e gravosos para uma região…
Falar no Alentejo significa uniformizar uma área geográfica de 31.500 m2, com 753.000 habitantes. Há muitos “Alentejos” com diversos níveis de desenvolvimento. Nesta mesma estatística verifica-se que temos um Alentejo Litoral e um Baixo Alentejo em desenvolvimento, impulsionados pela actividade gerada em Sines e Neves Corvo e um Alto Alentejo (representado neste quadro apenas pelo Distrito de Portalegre) e um Alentejo Central (Distrito de Évora) em divergência com percentagens de variação negativa do VAB de -4.9% e de -7.4% respectivamente.
Se isolarmos os valores correspondentes ao Alto Alentejo, o VAB per capita aumentou 3% e o emprego cresceu 2.9% (o que poderiam ser óptimos resultados) mas a população reduziu 7.4% e a produtividade decresceu 7.2%. Aliás, o Alto Alentejo (Distrito de Portalegre) foi a sub-região Alentejana que mais população perdeu em percentagem neste período!
Quando os governantes falam de desenvolvimento regional falam das macro-regiões. Falam de um Alentejo com Sines, com o Aeroporto de Beja, com o Alqueva, com Neves Corvo e com Auto-Estradas que ligam as capitais de Distrito às redes logísticas. Mas a micro-região Alto Alentejo e nomeadamente Portalegre são realidades distintas. A auto-estrada passa em Elvas mas fica demasiado longe da capital de Distrito, as áreas tradicionais como o turismo e artesanato são insuficientes para fixar população e o facto de não existirem investimentos públicos impulsionadores para a região, leva os jovens a procurarem melhores condições de vida noutras regiões do país ou do estrangeiro. A convergência da região com a média do país pode até ser conseguida estatisticamente no curto prazo, pela via do decréscimo populacional, mas isso é também uma ameaça para o futuro da região por não ser sustentável a médio prazo. Nenhum dos grandes projectos previstos no Alentejo até 2030 terá impacto positivo em Portalegre. São eles o aeroporto de Lisboa em Alcochete (com impacto em Vendas Novas e Évora), a expansão do porto de Sines, a ligação ferroviária Sines-Badajoz, as “auto-estradas do mar”, a plataforma logística do Poceirão, a plataforma logística de Elvas/Caia, o caminho-de-ferro de alta velocidade, o IP8 Sines-Andaluzia, o aeroporto de Beja e a rede de rega de Alqueva.
O Alentejo pode estar em convergência mas o Distrito de Portalegre ficou esquecido dos governantes. Fica demasiado longe para ir de fim-de-semana e demasiado perto para criar uma centralidade própria. Não tem ouro, petróleo, portos, aeroportos nem pirites. Pessoas cada vez tem menos e as empresas que subsistem tentam sobreviver nesta dura realidade. Quando os governantes despertarem para este problema, talvez seja tarde demais. Será preciso começar tudo do zero: pessoas, empresas, estratégia e motivação!
Cada um de nós tem a sua responsabilidade própria que será tanto maior quanto a responsabilidade dos cargos ocupados e a capacidade de influência junto de quem decide!
Não deixemos o Alto Alentejo ficar esquecido!
* Valor acrescentado bruto (VAB) é a soma da actividade produtiva, no decurso de um período, para uma determinada região. Resulta da diferença entre o valor da produção e o valor do consumo intermédio, excluindo impostos e subsídios; VAB = PIB – (impostos - subsídios)
Artigo de Nuno Vaz da Silva publicado no Jornal "Alto Alentejo", edição de 3 Novembro de 2010 e que também pode ser lido no blog Deseconomias
2 comentários:
Bem verdade Nuno. O Alto Alentejo é realmente esquecido quando se pensa no Alentejo. Fiquei deveras impressionado com o volume de perda de população ocorrido em apenas 6 anos. E sei que a tendência será para continar nessa trajectória se mudanças fortes não ocorrerem.
Há muito tempo que insisto nesta mesma tecla mas receio que desde 2006 até 2011 a tendência de perda de população se tenha acentuado ainda mais.
Não há uma estratégia de aumento da população, de criação de empresas, de aumento da produtividade. E quanto menos pessoas, menor a capacidade de influência e maior o potencial de subdesenvolvimento.
Aguardo com expectativa novos dados estatisticos e vou continuar a alertar para este grave problema que poucos ainda definiram como tal!
Enviar um comentário