Tenho passado as ultimas horas a conhecer a historia dos mineiros do Chile e a testemunhar o seu resgate e ascensão ao estatuto de fama internacional. Verdade seja dita que aguentar a clausura e a escuridão durante 69 dias consecutivos é experiência digna de cobertura mediática mas o que me chocou foi a facilidade com que dei por mim a aceitar conhecer os detalhes da vida destes homens. Que um era primo do doutro, que estava para ser ou tinha já sido pai enquanto preso na mina, que gostava de ouvir Elvis Presley e fazer jogging pelas manhas. Em qualquer outra situação nada disto me chamaria a atenção mas em todos os casos, a história torna-se ainda mais épica e apoteótica porque lhe podemos dar nomes e rostos.
Mais do que mineiros enclausurados eles são agora personagens heróicos, elevados a condição de estrelato internacional. Ao ver as suas fotos assim alinhadas não podia deixar de pensar num “Facebook” ao qual me subscreveria como “amiga” sem qualquer hesitação.
Mas, com todo o respeito, porque será que nos interessa a epopéia dos chilenos? Será que estamos assim tão sedentos de finais felizes? Ou será porque a história destes homens representa de alguma forma o triunfo do Bem sobre o Mal, do desinteresse sobre o compromisso, da apatia sobre a ousadia de nunca desistir de resgatar 33 dos nossos compatriotas das profundezas da mina?
Lia no outro dia um artigo no Público um artigo que defendia que a herança do Governo Sócrates era o romper do compromisso entre a sociedade e o Governo. Será que os milhares de portugueses e portugueses a quem “puxamos o tapete” por baixo dos seus pés acreditam que o compromisso do seu Governo em resgatá-los duraria 69 dias?E não será por isso que bem lá no fundo, hoje todos tivemos um pouco de orgulho em ser chilenos?!
2 comentários:
Muito bem Ana!!!
Bem vinda ao blog!!
Olá Ana,
gostei das tuas observações. apesar deste fenomeno ser muito complexo existem duas observações que me parecem mais pertinentes numa fase de discussão mais informal:
a) as pessoas têm apetÊncia para repetição e curiosidade seguir historias
b) o discurso politico tem uma apetência para criar distracções e promover uma alienação critica colectivas
No primeiro caso podemos ver o sucesso das telenovelas e dos BB's, ou de outra forma podemos pensar que se houvesse a tragédia no Chile e no mesmo dia eles fossem salvos não se gerava agora este interesse generalizado, pois passado dois dias estávamos a acompanhar outros fenomenos
No segundo caso o que acontece é que nos telejornais ou media em geral na parte politica tens pequenos casos de corrupçao ou a renovação na frota dos mercedes dos politicos, ou então que agora um assessor anda a dar cargos publicos em troca de favores. depois tens os casos dos mineiros, ou antes do h1n1 ou antes do h5n1 ou antes do aquecimento global (as novelas de varios capitulos) e mais algumas situações pontuais, e no final algo engraçado para as pessoas se sentirem reconfortadas como um cao a andar de skate nos US. ok muito bem, as pessoas recebem aquilo que as pessoas gostam e nao vou criticar os media. o problema é que ninguem conhece o orçamento ou propostas, ou reformas do sistema financeiro porque são temas pesados e que exigem tempo de exposição e no meio desta agenda não existe espaço. no fundo isto resulta nessa alienação/distanciamento de pensamento critico a relação a esses topicos numa maioria alargada. e isto interessa ao mecanismo politico como interessa aos orgãos de poder de uma forma geral pois o controlo da informação sempre foi e será uma forma de poder, e se as pessoas pensarem pela sua cabeça e atingirem massa critica então o poder torna-se partilhado.
Fico feliz pelos mineiros, e fico feliz pelo Socrates porque tudo isto contribui para que não se discuta com mais atenção acções aos quais ele directa ou indirectamente é responsavel e deverá ser responsabilizado.
pode ser que agora ele tenha sorte se começar uma novela sobre se mandam pedradas no autocarro do benfica ou não.
bjo
C.
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