Na noite eleitoral ouvi uma distinta personalidade politica nacional (pertencente ao núcleo de apoio do candidato vencedor) a dizer em jeito de comentário aos resultados eleitorais que, “ou os partidos conseguem mudar de dentro para fora, ou serão mudados de fora para dentro”.
E porquê?
Nestas eleições registou-se 4.26% de votos em branco. Cerca de 190.000 eleitores quiseram exercer o seu direito de voto, conseguiram fazê-lo e, simplesmente, deixaram o boletim tal como o receberam, em branco! Se somarmos os 86.000 portugueses que deixaram nas urnas o seu boletim nulo (1.93%), temos cerca de 276.000 eleitores que não se identificaram com os candidatos nem com os partidos que os apoiaram, ou seja, 6.19% do total de eleitores. Podemos ainda divagar sobre os números da abstenção: 53.37% dos eleitores preferiram não exercer o seu direito (ou não conseguiram). Ou seja, os candidatos foram apoiados por apenas 40% dos eleitores.
Apesar de estarmos perante uma reeleição (por tradição são menos participadas), todas as forças partidárias estiveram representadas com o apoio aos seus candidatos e houve até candidatos independentes. Tivemos ainda dramatizações sobre o resultado das eleições para tentar levar as pessoas às mesas de voto: colocou-se em causa a democracia, o estado social e a verdade política. No entanto, nenhum desses argumentos ou estratégias foi suficiente (ou talvez tenha sido excessivo) para levar 60% dos cidadãos às urnas e optarem por um dos candidatos!
Nas noites eleitorais, todos falam que deve haver uma reflexão sobre o motivo que leva cada vez mais portugueses a afastarem-se da vida política. Confesso que não percebo para que é necessária reflexão atrás de reflexão para depois continuar tudo na mesma. As razões estão à vista de quem vive no mundo real: Esta política não serve os cidadãos e os partidos vivem demasiado da estratégia e pouco do interesse público!
Desconfio que a maioria dos especialistas em ciência política defende que não existe espaço no espectro partidário português para vingar um novo partido político. Mas, pelo estado da arte, não tenho essa certeza. Existe espaço político se os partidos não se reinventarem e os cidadãos traduziram isso claramente nas últimas eleições. A esquerda está tomada e a direita também. Mas o centro e certas franjas da sociedade (desde o pequeno agricultor às elites graduadas) não se revêem nos partidos, nas pessoas, nas ideias ou simplesmente no discurso político. Há 60% de eleitores para disputar (somando abstenção, votos brancos e nulos). É uma percentagem muito significativa e que pode ganhar qualquer eleição, seja presidencial, legislativa, europeia ou mesmo autárquica.
Claro que os partidos existentes iriam adaptar-se a uma nova ordem política e mudariam a sua estratégia. Mas, até lá, como dizia o comentador: “ou os partidos conseguem mudar de dentro para fora, ou serão mudados de fora para dentro!”
2 comentários:
Sendo Portugal um país propagandeado como estando na vanguarda da tecnologia, seria de esperar que já fosse possivel votar em qualquer freguesia do país, independente do sítio onde se esteja registado. Isso diminuiria a abstenção.
Helas, os eventos das últimas eleições mostram o caminho que ainda há a percorrer, uma vez que até estamos a retroceder.
Isso acontecerá quando se fizer mais do que se fala!
E não nos podemos esquecer que os partidos também não precisam de simpatizantes que percebam a mensagem. Precisam apenas de votantes que manifestem as suas preferências nas urnas.
Penso que não me engano em prever que cada vez mais teremos a politica do marketing, da criatividade e da psicologia e cada vez menos a politica dos ideais, das massas e dos manifestos!
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