terça-feira, 18 de setembro de 2012

Mixórdia de manifestações



As manifestações são um fenómeno muito interessante do ponto de vista sociológico. Numa manifestação, verifica-se o expoente máximo do comportamento de rebanho veiculado pela ciência económica: a organização das manifestações tem um propósito específico mas existem diferentes objectivos por cada manifestante (o que leva a resultados finais incertos). Alguns querem que o Governo se demita, outros estão contra um ministro, parte das pessoas critica a medida da TSU, cidadãos que querem emprego e outros que não querem trabalhar e ainda há espaço para aqueles que apenas gostam de protestar. E no final, ainda alguém se recordará qual o lema inicial dos promotores??

Tirar ilações de uma manifestação não é fácil e talvez seja um erro generalizar as intenções alheias! Podemos dizer que as pessoas estão descontentes, isso é indesmentível. Mas estão descontentes porquê? Pelo Estado Social que têm ou pelo que ambicionam? Estão chateados porque têm de pagar as dívidas dos governantes que elegeram ou porque gostariam que eles voltassem? Preferem que a Troika os abandone ou querem receber os seus salários? (passo as provocações…)

A manifestação que fica para a posteridade é a mediatização da manifestação! São as fotos, os comentários, as imagens, os cartazes, as detenções, as agressões e os insultos...

Depois da manifestação é necessário capitalizar o descontentamento em propostas concretas para que a clivagem social possa moldar comportamentos ou influenciar politicas. Não existindo um partido politico ou uma associação organizada estatutariamente por detrás da manifestação, cabe às forças vivas da sociedade civil redigirem propostas e exigir responsabilidades. Mas cabe também aos cidadãos reflctirem sobre as suas exigências. Por exemplo, o que aconteceria se a Troika saísse hoje do país? Teríamos um Portugal em Bancarrota, sem pagar salários e pensões, com uma crise social muito séria e seriamos afastados da União Europeia, sem qualquer financiamento dos nossos credores! Será isso que queremos?
A culpa dessa aparente ignorância social é sobretudo dos políticos! Nos discursos políticos fala-se de tudo e mais alguma coisa, durante horas consecutivas, mas não se esclarecem os assuntos relevantes. Não existe (ainda) o papel do político pedagogo que explica aos cidadãos os problemas que lhes dá a conhecer as alternativas de soluções e que demonstra as mais-valias da sua decisão (provavelmente porque são decisões amadoras ou com influências de grupos económicas).

Há um novo Portugal após o anúncio das novas medidas de austeridade do Governo. Temos um Governo de facções com um CDS numa posição arriscada mas priveligiada e um PSD em quebra de capital político, um PS em ascensão mas sem propostas alternativas e coerentes de Governo, um Bloco de Esquerda em renovação e um PCP que se mistura com as centrais sindicais.

Mas não sei se teremos cidadãos mais exigentes, menos permissivos ou simplesmente saudosos dos insustentáveis tempos em que muitos ganharam o que não deviam e que nos levam hoje a pagar o que não temos!

As manifestações fazem falta como sinal de vitalidade social mas protestar sem argumentar é a mesma coisa do que pedinchar sem merecer!

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