Entre os macroeconomistas é frequente haver falta de consenso sobre a melhor forma de combater uma recessão (sobretudo uma com as características da recessão que Portugal enfrenta hoje). Mas já em relação aos fatores que contribuem para o bom desempenho da economia no longo prazo a evidência empírica é muito mais clara. O investimento em educação e em capital humano é um dos principais determinantes do nível de rendimento de um país no longo prazo.
Naturalmente, um dos princípais fatores que explicam a paupérrima performance da economia portuguesa no século XX e no início do século XXI é o atraso em relação aos nossos companheiros europeus em termos de capital humano. É por isso que notícias como esta são preocupantes. É que a famosa competitividade, num mundo globalizado, não cresce com o empobrecimento da classe média, mas sim com uma aposta forte na educação e em particular no ensino superior!
Paulo S Monteiro
8 comentários:
Paulo:
Acho que temos que analisar estes números com um detalhe maior antes de tirarmos conclusões. Se a redução de alunos for em áreas completamente entupidas com licenciados (quase todos os cursos de "papel e lápis") acho que até deveria ser mais. Por exemplo, acho que o número de vagas dos cursos de direito e educação deveria estar condicionado à número de pessoas que se tinham reformado, morrido ou emigrado nos últimos 3 anos. E há uma série de cursos que simplesmente deveria ser extinto. Há neste momento 1120 cursos superiores, estou certo que muitos deles praticamente inúteis do ponto de vista da empregabilidade
Olá Paulo,
Mas infelizmente não é o caso! A lista do top 10 de cursos com vagas sobrantes (i.e. falta de candidatos) inclui:
Engenharia Civil (Nova, ISEL e Coimbra)
Engenharia Electronica (ISEL)
Quimica (no Porto)
Paulo Ribeiro: Isso é completamente contrário à lógica de mercado que as profissões também têm de ter! Centralismo estatal nas vagas de cursos só leva a momentos de excesso ou falta de profissionais.
Paulo Santos Monteiro:
Concordo com o teu comentário, mas a educação é uma política de longo prazo. Tem de ser feita, mas começa na primária, com exigência e disciplina, com conteúdos relevantes e a partir de certa idade a escolha por um ensino mais profissional/ prático ou direccionado para a universidade.
No curto-prazo pouco ou nada se pode fazer na educação que não seja racionalização de custos e preparar o terreno para as reformas que nos vão dar fantásticos profissionais daqui a 15-20 anos… mas já agora notem que estas gerações nascidas no pós-25 de Abril estão muito bem preparadas, academicamente. Se calhar o problema está nas expectativas desajustadas e no excesso de oferta…
Olá Pedro,
De acordo. Mas o meu post também pretendia alertar para outro problema. É perfeitamente concebível que as políticas de austeridade ao reduzirem o rendimento disponível de muitas famílias tenham como resultado a diminuição do número de jovens que escolhem continuar os estudos após o 12ºano (a recente tendência sugere isto). Mas isto seria grave, porque Portugal já tem um enorme atraso em termos do número de pessoas com formação universitária e não podemos perder ainda mais terreno.
Pedro:
Lógica de mercado foi o que imperou nestes últimos 20 anos. Uma lógica distorcida, em que as universidades foram sendo incentivadas a abrir cursos a pontapé proque as subvenções estatais eram baseadas em número de alunos. Como os sucessivos governos o que queriam era apregoar que não se quantos por cento da população era licenciada, fecharam os olhos às reais necessidades da economia e aprovaram cursos e números de vagas a granel. Falando de apenas universidades públicas (porque nas privadas ainda é pior) faz sentido haver 195 vagas para antropologia? e 932 vagas para os diversos cursos de arquitectura? e o que falar das 1342 vagas para direito?
O Estado tem o dever de proteger os cidadãos e não pode apenas jogar com rankings da OCDE para apregoar sucessos no capítulo da formação. Como o Paulo Monteiro refere há uma relação entre desenvolvimento entre educação e desenvolvimento de um país, mas esta educação tem que contribuir para a economia. Quando se forma uma pessoa por 17 ou mais anos para depois acabar como caixa de supermercado ou operador de call center, é um desperdício de recursos.
Paulo Monteiro: Eu diria que isso só se torna uma tendência grave se não arranjarmos formação alternativa. Nem toda a gente precisa ou quer ter formação superior. Mas no geral concordo contigo.
Paulo Ribeiro: Não é verdade. Nos últimos 20 anos o Estado é que disse quantas vagas havia em cada curso, aliás como tu indicas com o exemplo das subvenções estatais, aprovação de cursos e número de vagas a granel… isto não me parecem nada mecanismos de mercado.
Educação e desenvolvimento do país estão ligados. Nisso estamos todos de acordo. Quando se forma uma pessoa 17 anos e ela acaba como caixa de supermercado é um reflexo da ausência de mecanismos de mercado no sector da educação, ao contrário do que propões.
Pedro:
Acho que estamos a falar de "mercados" diferentes: o mercado a que tu te referes é o mercado do "cliente" final que vai utilizar o licenciado. O mercado que eu falo é o do mercado da educação, entre alunos (e famílias) e respetiva instituição de ensino. E neste ultimo mercado, o que tem havido é uma intervenção estatal praticamente nula, no sentido de aceitar a abertura de cursos/vagas a granel sem qualquer senso de futura utilização pelo "teu" mercado. Eu não acho que tenha sido o Estado a decidir o número de vagas, penso que tenha sido um processo em que as universidades propunham o número de vagas, tendo em conta rácios prof/aluno, doutorado/licenciado, nr, publicações/professor, etc. e o ministério aceitava ou não.
Quando digo que o Estado se demitiu das suas funções fiscalizadors foi porque claramente houve um favorecimento de cursos "fáceis"(no sentido de aplicação de recursos disponíveis) em detrimento de cursos "necessários" para o mercado final. E é por isso que nos últimos 20 anos houve um mercado distorcido: as universidades propuseram cursos sem qualquer empregabilidade futura, o Estado não analisou a questão de uma maneira global (um curso com 30 vagas não parece muito, mas se houver o mesmo curso em 10 instituições diferentes, já aproximadamente 300 licenciados por ano)e foi aprovando cursos e mais cursos. O mercado da educação não funcionou. As universidades maximizaram o lucro (meter 30 alunos numa sala a ouvir um professor é muito mais barato que arranjar laboratórios, reagentes, e equipamentos para 30) e mais uma vez, as pessoas foram enganadas com promessas de amanhãs que cantam.
Paulo Ribeiro:
Primeiro não existem dois mercados. Segundo o estado tem intervindo ao criar vagas e "controlar" quantos licenciados vamos ter em que áreas. Terceiro tudo isso tu confirmar na frase final do teu primeiro parágrafo.
O mercado da educação superior não funcionou nem funciona porque o estado se mete ao barulho. O teu segundo parágrafo é uma clara contradição à tua primeira frase de 11 de Setembro e dizes, no essencial, o que eu disse…
Uma nota: Se um aluno paga o mesmo e a universidade recebe o mesmo por cursos com custos diferentes, é uma boa prática de gestão optar por cursos de menor custo… especialmente quando o estado se mete no assunto.
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