domingo, 7 de outubro de 2012

A Transparencia dos Estados modernos: Ontem, Hoje, e Amanha



A Transparencia do Estado é um dos valores mais prezados pelos cidadaos em democracia. Esta nao é uma questao menor, sobretudo quando pensamos que historicamente muitos Governos dentro e fora da Europa foram controlados por elites pouco claras nos seus objectivos. Um exemplo disto é a Primeira Guerra Mundial, um evento que mutilou toda uma geracao e que praticamente nao teve discussao junto da opiniao pública da altura. Ainda hoje os historiadores discutem os motivos que causaram o conflicto e porque persistiu tantos anos com resultados catastroficos.

O Estado moderno concentra imensas funcoes, como o monopólio da lei (parlamento, justica e tribunais) e da violencia (exercito e policia), uma enorme empresa económica (em sectores como a água, saúde ou educacao), o regulador que protege os consumidores de abusos por parte das grandes empresas, o controlador da moeda, e ainda o principal gestor dos activos e poupancas dos seus cidadaos (dado que confiamos na Seguranca Social para pagar as nossas pensoes futuras). Como o Estado moderno toca as nossas vidas todos os dias e de múltiplas formas naturalmente temos o direito e o dever de saber onde é investido o nosso dinheiro e como se gere este poder de Golias.

Todavia, é importante reconhecer que os nossos Estados modernos tem evoluído de forma extraordinária no sentido de mais e melhor Transparencia. Julgo ademais que o progresso da Transparencia ainda está longe de terminar por motivos tecnologicos: 1) a Lei de Moore e cloud computing asseguram a facilidade de processar quantidades crescentes de dados; 2) a Internet vai continuar a expandir o nosso acesso a informacao; 3) a globalizacao tem conduzido a uma partilha crescente de informacao entre paises e organismos internacionais. Eu diria aliás que os Estados modernos sao actualmente as instituicoes mais transparentes do mundo e as que tem aproveitado melhor as novas tecnologias para melhorar a sua Transparencia.

Assim gostaria de avaliar quantitativamente 13 práticas de Transparencia num Estado moderno e como se comparam com outras instituicoes como as grandes empresas:


1.     controlo dos accionistas (a abstencao eleitoral é de 50% ou mais no Estado, mas é muito superior nas empresas);
2.     dimensao do quadro de administradores nao-executivos (9 ou 11 nas grandes empresas versus 230 deputados no Parlamento em Portugal);
3.     número de reunioes do quadro de gestores nao-executivos (as grandes empresas apresentam contas trimestralmente, mas o parlamento estatal reúne diariamente);
4.     exigencia de administradores nao-executivos e accionistas (nas empresas em geral os accionistas e administradores aprovam sempre as propostas da Admnistracao, mas no Estado o parlamento é muitas vezes contrario);
5.     alternancia da administracao (muitos CEOs permanecem em funcoes até à reforma, mas nos Estados existem mudancas de poder a cada 4 ou 8 anos);
6.     auditoria (as empresas sao controladas por auditoras privadas, como Deloitte ou Ernst & Young, ao passo que o Estado é auditado pelo Tribunal de Contas);
7.     gestao das suas unidades geográficas (em geral os administradores nao-executivos e os accionistas só controlam a empresa matriz e nao as suas multiplias sucursales, mas no Estado existem vereadores de diferentes partido controlando a gestao de cada municipio);
8.     facilidade de interpretacao das contas (as contas do Estado – divida publica, gastos em salarios públicos, projectos de investimento, PPPs, pensoes, receitas fiscais – sao mais fáceis de perceber que as de muitas grandes empresas; observemos que uma única categoria de despesa, as pensoes e apoios sociais, representa 75% a 90% do orcamento de um Estado moderno);
9.     frequencia das estatisticas (as grandes empresas só apresentam contas trimestrais; até 1999 o Estado portugues apresentava apenas estatisticas anuais, mas actualmente publica estatisticas trimestrais para todas as variaveis de maior importancia e estatisticas mensais para as principais industrias);
10.  informacao sobre efeitos nos cidadaos (geralmente as empresas nao providenciam muitas estimativas sobre os efeitos da sua actividade nos seus clientes e na comunidade em geral, mas este é um foco grande do INE que providencia estatisticas de desemprego, rendimento, pobreza e desigualdade);
11.  comparacoes feitas por organismos internacionais (em geral as empresas sao muito bem estudadas por analistas de bancos privados e hedge funds, mas estas instituicoes só tornam os seus relatorios públicos quando lhes convém; mas o Estado é o foco de informes internacionais de instituicoes como Eurostat, Comissao Europeia, OCDE, Banco Mundial, FMI, e agencias de rating);
12.  presenca nos media (o Estado é fonte de noticias constantes, humor, debates televisivos, e em um grau muito superior a grandes empresas como Microsoft);
13.   entrevistas de administracao e emprego (todas as contratacoes do Estado sao públicas em Diário da República e no caso de alguns Governos – como o dos EUA – na página web do Congresso e Senado; os principais cargos do Governo passam ademais por um longo processo de recrutamento, que envolve varios meses de campanha, debates, e provar ao eleitorado que sabem gritar em congressos, cantar, bailar, e beijar criancas, um recrutamento exigente que nao existe em empresas).
  
Portanto, é fácil concluir que qualquer Estado democrático publica melhor informacao e destina mais recursos humanos, financeiros, e informáticos no dominio da Transparencia que a melhor das empresas. Em todos os criterios possiveis de Transparencia de um organismo qualquer Estado moderno, incluindo Portugal, é bem superior a qualquer empresa, incluindo, ironicamente, as organizacoes nao-governamentais como a Transparencia Internacional. Por outro lado, varios investigadores sugeriram que a medida de inquérito do Banco Mundial e Transparencia Internacional, perguntar às pessoas de 1 a 5 ou de 1 a 10 quao corrupto é o governo, nao é a mais adequada, uma vez que pessoas de paises diferentes tem uma nocao diferente do que 3 ou 4 significa. Em termos desta medida de “percepcao subjetiva” a Nova Zelandia é o país mais honesto do mundo e Portugal está na posicao 32 em 180 países, o que até é uma posicao favorável a nivel europeu. Todavia, varios autores (Olken, 2005, Urra, 2007, Morris, 2008, Raile, 2011) tem mostrado que esta medida subjetiva de corrupcao está mais correlacionada com factores macroeconómicos do que com medidas concretas de corrupcao (percentagem de empresas que reporta subornos). Bem, de acordo a medidas objetivas de corrupcao como a percentagem de subornos, Portugal é um país mais honesto que a Nova Zelandia, o melhor país da Transparencia Internacional!

Donde se pode melhorar o funcionamento do Estado? Eu julgo que o principal problema dos Estados actuais nao é a sua Transparencia, mas a falta de racionalidade dos seus accionistas (ou seja, o eleitorado). Por exemplo, actualmente há uma grande discussao na imprensa acerca da transparencia das PPPs em Portugal. Varios jornais destacam algumas críticas do Tribunal de Contas às PPPs, mas estas críticas dizem respeito às estimativas de pagamentos para depois de 2030 ou de cláusulas que poderao ser ou nao activadas. Ou seja, as PPPs nao sao mais complexas que habituais projectos de investimento feitos por qualquer empresa. Nao estamos a falar de opcoes exóticas. É absolutamente falso que em Portugal os decisores politicos podem assinar contratos secretos que só se descobrem mais tarde. Se isso fosse assim, certamente haveria ministros e secretarios de Estado fazendo transferencias para contas privadas nas Caraíbas e fugindo do país no dia seguinte, mas isso nunca aconteceu. Nao só os contratos das PPPs estavam disponiveis em informes regulares do Estado (Reis, 2012), como também eram reportados obrigatoriamente como parte das estatísticas de Portugal e outros países no Eurostat desde 2000 e no FMI desde 2001.

O principal problema de Portugal nao é a falta de Transparencia do Estado, mas o facto de que os seus problemas estao bem à vista de todos. Como Churchill dizia, um Estado democrático assegura que os Governos sao tao maus como o seu eleitorado quer. Em finais dos anos 90, o Governo de Guterres anunciava obras públicas como SCUTs com menos custos para o cidadao e poucos se preocupavam que mais tarde se pagariam esses investimentos com rentabilidades de 15%. Ninguém se preocupou com críticos que diziam tratar-se de uma dívida implícita e que nao aparecia no défice oficial do Estado.

Se o Estado de Portugal fosse uma empresa em Bolsa, eu nao comprava as suas accoes. Mas isso nao se deve a falta de Transparencia, mas sim ao facto dos seus accionistas (ou eleitores) estarem sempre dispostos a votar mais despesa ineficiente hoje ao custo de juros caros a pagar amanha. Tal como a beleza da Sophia Loren no filme “Ontem, Hoje e Amanha”, os nossos problemas sao bem transparentes.


Carlos Madeira
Economista do Banco Central do Chile
O artigo reflecta meramente a opiniao pessoal do seu autor.

21 comentários:

Nuno Vaz da Silva disse...

Muito pertinente este teu artigo. Já há algum tempo atrás tinha começado uma reflexão, embora mais simples, sobre esta temática e que poderás consultar aqui: http://dinamizarportugal.blogspot.pt/2012/01/estado-nacao-ou-estado-empresa.html
Eu não sei se o valor que os cidadãos mais prezam é a transparência. Aliás, parece-me que o grande problema dos Estados é um decalque de uma tendência das sociedades contemporâneas: um crescente egoísmo.
A perca do espirito de solidariedade implica uma alteração brusca dos comportamentos colectivos para os quais os Estados não estão preparados, a começar pelo sentido de responsabilidade social.
Há muitos cidadãos que se preocupam com os outros e com o impacto que esta ou aquela medida têm na sociedade. Ainda assim gostava que existissem estudos sobre os aspectos que os cidadãos mais valorizam quando votam. Não me admiraria que fossem factores como a beleza dos candidatos, as promessas que fazem ou as obras que anunciam...

Joao Madeira disse...

Concordo com o teu artigo Carlos.

Ouco muitas vezes as pessoas dizerem a culpa da situacao em que estamos e dos politicos (Cavaco, Guterres, Barroso, Socrates, etc...), pois esses aumentaram os gastos publico, nao souberam controlar o defice, nao fizeram as reformas para sermos mais competitivos, etc...

Mas a verdade e que essas mas politicas (concordo quando as pessoas dizem que foram mas politicas) foram adoptadas com a total concordancia do eleitorado.

Aquilo que me recordo sempre foi que os politicos vencedores das eleicoes foram aqueles que mais prometeram adiar as reformas estruturais (como reducao dos custos de despedimento), aumentar os gastos publicos (e claro, sem aumentar os impostos - dai o problema do defice) e mais obras publicas (mais PPPs, mais fundacoes, etc...).

Ou seja as mas politicas foram adoptadas justamente para agradar ao eleitorado portugues pois prometiam beneficios imediatos e custos apenas no futuro. Agora chegou a altura de se pagarem esses custos mas parece-me injusto dizer-se que a responsabilidade pertence apenas a classe politica. Os portugueses tambem tem de reconhecer que ultimamente essas mas escolhas foram feitas pelos eleitores (e os politicos foram os executantes).

Joao Madeira disse...

Ah era so para adicionar que o mesmo se passou na Grecia. Uns colegas gregos meus diziam-me que o problema da Grecia eram os maus politicos que gastaram imenso dinheiro. Eu depois perguntei-lhes mas se calhar isso aconteceu porque os eleitores gregos votaram justamente nos politicos que prometeram gastar mais.

Os meus colegas admitiram que sim, que isso era verdade e que a frase mais vezes repetida pelo anterior primeiro ministro antes da crise rebentar era "Ha dinheiro!".

Nuno Vaz da Silva disse...

Mas João, o actual Governo também veio dizer que não aumentaria impostos, que resolveria a crise em 2012 e outros argumentos eleitorais falaciosos.
Não digo que a culpa não seja também dos cidadãos mas dado que não existe qualquer responsabilização pelos programas eleitorais, um partido pode até prometer oferecer um ferrari a cada votante nas eleições e depois de ser eleito dizer que estava a brincar (como eu já alegava em 2010: http://dinamizarportugal.blogspot.pt/2010/09/vou-oferecer-um-ferrari-cada-portugues.html )
Será que numa situação dessas os votantes têm a responsabilidade? Parece-me que não...

Nuno Vaz da Silva disse...

Para além disso, o voto pode ter multiplos significados e motivações. Votamos para eleger alguém mas também para não eleger outros. Existe uma escolha entre duas ou mais realidades politicas e eu próprio já votei muitas vezes não para alcançar o óptimo da utilidade politica mas apenas um second, third ou four best!
Se tiver dois politicos maus, posso votar em branco mas também posso escolher o menos mau. Ainda assim isso não significa que gosto das medidas que defende nem muito menos das que irá implementar e que nem próprio saberá!

Carlos Madeira disse...

Oi Nuno,

A questao da Transparencia do Estado e as promessas eleitorais sao temas distintos. Existe Transparencia? Sim, as pessoas tem muita informacao para avaliar as politicas do Governo. Nenhuma instituicao gasta tantos recursos (humanos, financeiros, mediaticos, e informaticos) em Transparencia como um Estado democràtico moderno. As promessas eleitorais sao outro tema. Na minha opiniao as pessoas também dispoem de boa informacao para avaliar as promessas eleitorais, mas preferem ignorar a realidade e isso nao é proibido.

Aqui é bom aclarar uma coisa em relacao aos programas eleitorais. A Constituicao nao diz que "é proibido mentir" e também nao diz que "é proibido acreditar em mentiras, falsidades, e irrealismos."

Em geral, eu penso que os politicos cumprem com muitas partes dos seus programas eleitorais. Dou exemplos:

Entrada na UE, expansao do servico de saúde, universalizacao da educacao, Rendimento Minimo Garantido, auto-estradas, SCUTs, politica de energias renovaveis, passeio maritimo, rotundas, mais policias na rua, legalizacao do aborto e do consumo de droga, referendo para a Regionalizacao, matrimonio Gay.

Em que coisas erram os programas eleitorais? Os programas erram em prometer coisas irrealistas, mas que as pessoas exigem que os politicos prometam. Estilo:

"Senhor politico, quero que aumente os Gastos, os Salarios, as Pensoes, e reduza os Impostos. Senao eu faco Birra e voto no outro Partido."

"Senhor politico, deviamos acabar com o crime em Portugal."

"Senhor politico, deviamos melhorar a qualidade da educacao e fazer com que todos os alunos aprendam Matemática e Física."

Que fazer? O politico obviamente promete: "Esteja seguro que comigo nao vai haver aumento de impostos."; "Ademais, vamos aumentar a exigencia da Matemática."; e "Com a gente vai haver seguranca em todas as ruas."

Isto sao o tipo de coisas que os politicos nao cumprem. Mas que fazer? O eleitorado quer estas promessas a todo o custo e nao gosta de quem lhe diga que nao.

Isto é como os miúdos que pedem aos pais "Tenis Nike no Natal" e depois recebem meias. Sao coisas que se prometem para evitar as birras.

Joao Madeira disse...

O que dizes e verdade Nuno. Os governos prometeram mais gastos e nao aumentar os impostos (cumpriram a parte de aumentar os gastos mas nem sempre cumpriram a parte de nao aumentar os impostos - mas se o tivessem feito, e so aumentaram os impostos quando se viram obrigados para cumprir as metas do defice, a situacao hoje seria ainda pior, pois estariamos ainda mais endividados).

Continuo convencido que a culpa ultima pertence aos eleitores. Repara que qualquer eleitor compreende que se o Estado gasta mais entao tambem necessita de obter mais dinheiro para pagar esses gastos. No curto prazo e possivel financiar os gastos com divida mas mais cedo ou mais tarde tem de haver aumentos de impostos.

Acho que qualquer pessoa no fundo sabe disso (mas as pessoas escolhem ignorar, pois querem os beneficios dos gastos ja e depois que outros se preocupem como pagar isso mais tarde), pois ate uma dona de casa com a 4 classe sabe gerir um orcamento (e que nao se pode gastar indefinidamente mais do que se ganha).

Os cidadaos tem de aprender a reconhecer a responsabilidade das suas escolhas (senao Portugal vai continuar a eleger os politicos que prometem Ferraris ou estadios de futebol).

Nuno Vaz da Silva disse...

Bem, a minha opinião é claramente distinta.
Vou dar um outro exemplo. Se tivermos no mundo apenas 2 universidades e se forem ambas más, duvido que um aluno consiga entrar para uma universidade boa. A alternativa é não estudar!

Voltando às eleições, há votantes que não votam mas há outros que optam pela menos má das duas alternativas. Por muita transparência que haja, ou mesmo que não houvesse qualquer assimetria de informação, com todas as opções mediocres duvido que possamos empurrar as culpas para os votantes. Podemos dizer que os eleitores têm culpa por não arranjarem outras alternativas válidas mas nesse caso teremos de falar das barreiras à entrada na classe politica!

Joao Madeira disse...

Nuno, o que dizes e verdade.

Posso escolher entre duas alternativas. Nao tenho disponivel a alternativa ideal por isso escolho a menos ma.

Mas repara que se fosse essa a explicacao para os problemas de hoje entao teriamos observado que os eleitores portugueses votaram menos nos politicos que prometiam mais gastos e que prometiam nao fazer as reformas estruturais.

Foi isso o que aconteceu?

A resposta e claramente nao!

Nuno Vaz da Silva disse...

Concordo. Ainda assim também sabemos que as motivações para o voto são inúmeras e muitas vezes são decididas pela boa imagem ou pela eloquência do candidato. Aliás, era capaz de apostar que 95% dos eleitores não lê os programas eleitorais. Mas isso acontece tanto por culpa dos eleitores como dos concorrentes. E verdade seja dita, nos ultimos anos os programas eleitorais são apenas um gasto desnecessário e falacioso de papel.

E por muito que vos compreenda, não posso censurar o eleitor médio que prefere escolher um politico que afirma que lhe vai dar um murro em deterimento de um outro que afirma que o vai espancar!

Os problemas que hoje enfrentamos são enormes e muitos deles têm justificação institucional e que exigiria a reforma do sistema politico. Até porque não podemos mudar a população nem as suas motivações para o voto por muito que identifiquemos na população (e eu reaformo que não tenho essa opinião) o problema do país.

Joao Madeira disse...

Pensa bem no seguinte exemplo. Nao so os portugueses votaram a favor dos politicos que mais despesas prometiam na campanha eleitoral para o governo do pais mas tambem o fizeram a nivel autarquico.

Quais forma os presidentes das camaras que foram eleitos em Lisboa e Porto?

Foram justamente aqueles que prometeram dar mais dinheiro ao FCP (para contruir o estadio do dragao), Benfica (o Joao Soares defendia que se poupava dinheiro se houvesse apenas um estadio para SCP e Benfica. Quem ganhou as eleicoes? Foi o Santana Lopes que prometeu que nao havia problema e ele compraria os terrenos do Benfica por um valor alto de forma a que houvesse estadios para todos) e SCP.

Joao Madeira disse...

Repara que o eleitor medio nao esta a escolher entre "um politico que afirma que lhe vai dar um murro em deterimento de um outro que afirma que o vai espancar".

A escolha dada ao eleitor e a seguinte: um politico promete dar-lhe um Ferrari e outro promete dar-lhe um Renault.

O cidadao escolhe o politico que lhe promete o Ferrari. Ora o cidadao (tal como qq dona de casa) sabe que o politico vai ter de pagar esse Ferrari. O cidadao tambem sabe que o Ferrari no imediato pode ser pago com divida mas que eventualmente e inevitavel que o estado tenha de obter receita para pagar esse emprestimo (tal como qq dona de casa sabe que nao se pode gastar sempre mais do que ganha).

Ou seja votamos em politicos que gastaram o dinheiro em coisas frivolas (como estadios de futebol) e agora queixamo-nos que o estado tem grandes dividas para pagar?

Todos sabiam que este momento chegaria (mas na altura ninguem quiz saber, so queriamos era gozar a festa - alias todos os politicos que tentaram reduzir as despesas publicas foram fortemente vilipendiados na opiniao publica, estou a pensar nos casos de Ferreira Leite e Campos e Cunha por exemplo).

Nuno Vaz da Silva disse...

João, o Rui Rio ganhou a Câmara no Porto a fazer campanha contra o FCP. Retirou todos os apoios e nem deixou a equipa festejar os titulos europeus na varanda da camara como era habitual. O António Costa ganhou Lisboa contra a politica despesista do Santana Lopes e as construções do tunel do Marquês e não creio que os cidadãos tenham má opinião do Prof. Campos e Cunha. Quanto à Dra Ferreira Leite, não te esqueças que ela foi Ministra da Educação e que conduziu um conjunto de reformas contra muitos portugueses que não se esquecem disso.
Os cidadãos têm memória mas não estão tão bem informados como julgas. A informação pode ser transparente e pública mas precisa de ser explicada e desmontada pelos governos e oposições. O trabalho das oposições não pode ser apenas mandar umas bocas no parlamento ou na comunicação social numa vulgar cassete previamente decorada.

Há culpas dos cidadãos mas os politicos não são todos protectores do bem estar social. E para se ser politico não basta ser um bom técnico.
Acredita que a escolha de muitas pessoas é entre o murro e o espancamento e, nessa escolha, à boa maneira portuguesa, a lógica tem sido "enquanto o pau vai e vem, folgam as costas"!
Entretanto, os casos da Dra. Manuela Ferreira Leite e do Prof. Campos e Cunha são muito interessantes. Cada um deles perdeu o seu capital politico na data por motivos diferentes mas em ambos os casos, houve também culpa ou responsabilidade do próprio.

Pedro Antunes disse...

Carlos,

Comparar birras das crianças e as promessas que os pais (fracos e irresponsáveis) fazem com as promessas eleitorais é no mínimo um insulto à inteligência dos cidadãos!

Aqui fica um texto comentário directo ao teu. Achei-o demasiado grande para colocar aqui.

http://dinamizarportugal.blogspot.pt/2012/10/a-cesar-o-que-e-de-cesar-em-resposta-ao.html

Joao Madeira disse...

Nuno, nao e necessario um cidadao estar super bem informado para compreender que o estado nao pode aumentar os gastos e adiar indefinidamente um aumento de impostos (ate uma crianca ou dona de casa sabe que nao se pode gastar para sempre mais do que se ganha).

Tens razao quando dizes que nem sempre os vencedores das eleicoes foram os politicos mais despesistas (mas olha que foram situacoes raras).

A verdade e que elegemos sistematicamente os politicos mais despesistas. Sim, e verdade que muitas vezes nao cumpriram as suas promessas (mas a situacao seria ainda pior se nao tivesse havido aumento de impostos como prometeram - teriamos hoje ainda mais divida).

Pensemos tb se a situacao hoje seria melhor se o Socrates (ou o Durao Barroso antes dele) tivessem cumprido as promessas do TGV e novo aeroporto de Lisboa. Estariamos melhor? Nao, estariamos bem pior.

Quando ao Campos e Cunha recorda-te bem que demitiu-se ao fim de apenas alguns meses (e dos ataques sistematicos de que foi alvo em jornais e media - lembremo-nos do caso das pensoes, nenhum outro politico foi criticado pelas pensoes que tinha apesar de mtos terem beneficios semelhantes ou maiores).

Joao Madeira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Joao Madeira disse...

Pedro, em que medida e que o Carlos e eu insultamos a inteligencia dos cidadaos?

Eu e o Carlos defendemos que os cidadaos portugueses quando elegem os politicos sabem que eles nao vao poder cumprir certas promessas (ou seja estao conscientes que quando se promete aumento de gastos publicos nao se pode manter igualmente a promessa de nao aumentar os impostos indefinidamente) e por isso tb sao responsaveis pela situacao em que estamos.

Como e que isso e um insulto a inteligencia dos cidadaos?

A posicao do Nuno e de que os cidadaos nao sao suficientemente inteligentes e informados para compreenderem quando um politico lhes mente e que por isso nao podem ser co-responsabilizados por aquilo que o politico que elegeram fez (ou dito de outra forma os cidadaos sao irresponsaveis pelas consequencias dos seus votos).

Qual e a posicao que mais respeita a inteligencia dos cidadaos?

Acho que a resposta e clara...

Pedro Antunes disse...

Ao afirmares que os cidadãos sabem que não se vão cumprir as promessas mas ao exigirem na mesma! No fundo como o exemplo da birra da criança. Se calhar a minha frase tinha sido melhor conseguida com um "é um insulto ao caracter dos cidadãos".

Convêm não esquecer que existe imensa desinformação! Basta ver um telejornal ou ler um jornal para ver a quantidade de informação mal passada. Basta ler um ou outro blog para ver a demagogia a evoluir… Tudo isto resultado de um excesso de informação inútil, muito bem manipulada (quase sem saberem como) por parte de um ou outro grupo da sociedade!
Lá está a opacidade dos Estados modernos!!!

Joao Madeira disse...

Ah Nuno, concordo plenamente quando dizes que "os politicos não são todos protectores do bem estar social"

Mas repara que eu ou o Carlos nunca afirmamos que os politicos eram os protectores do bem estar social (e que isso nao contradiz de forma alguma os argumentos expostos).

Sim, e verdade que existe na relacao entre politicos e eleitores aquilo que os economistas chamam "custos de agencia". Ou seja os politicos benefeciam de certos gastos sumptuosos como automoveis e tomam decisoes que sabem ser contrarias ao interesse dos eleitores.

Mas repara que esses custos tambem existem na gestao de empresas privadas.

No estado podem ser ou nao de maior dimensao (honestamente nao sei).

Joao Madeira disse...

Ok Pedro.

Garanto-te, que a minha intencao era apenas descrever a forma como interpreto o que ocorreu e nao ofender qualquer tipo de qualidade de pessoa alguma ou grupo de pessoas (tambem nao sei se e assim tao ofensivo fazer o que o Carlos fez, comparar accoes de adultos com as de criancas, afinal nao fomos todos ja criancas?).

Da mesma forma que quem for maldoso, pode ver minha posicao e do Carlos como um insulto ao caracter dos cidadaos, nao pode tambem a tua pode ser interpretada como um insulto a inteligencia dos cidadaos?

Pedro Antunes disse...

Qual parte? Eu não tenho problemas em ofender, nem acho que isso seja um problema por si só, desde que bem defendido, num debate como este! São mais interessantes estes mais fortes do que um qualquer debate leve como os que vemos no Prós e Contra. É assim que melhor percebemos e absorvemos a posição uns dos outros e podemos evoluir. :)

Fomos todos crianças e também já todos acreditámos no pai natal. Deixámos de acreditar no pai natal porque não fazia sentido, da mesma forma que fomos construindo o nosso caracter, bem ou mal.
Da mesma forma que eu posso dizer a um adulto "Pois, e ainda acreditas no pai natal" para insinuar que ele é ingénuo para além do razoável na sua idade, também aceitar que ele faz birra como uma criança é chamar-lhe qualquer coisa de não muito positivo!

Mais uma vez estão a comparar alhos com bugalhos! Algo que pode fazer sentido aceitar/compreender numa criança não faz num adulto, da mesma forma que o tipo de transparência dum Estado não pode ser o mesmo que para uma empresa - para voltar a discussão principal! :)