sábado, 27 de outubro de 2012

Ideias para o Futuro da Europa



Muitos economistas sugerem que a zona euro deveria avançar no sentido de melhores mecanismos de transferencias fiscais entre Estados em crise e de partilha do risco. Uma forma de fazer isso seria através de ESBIES, ou obrigaçoes de dívida europeia que poderiam garantir até 60% da dívida de cada país. Ao mesmo tempo as ESBIES partilham o risco de liquidez e a estabilidade financeira, este mecanismo previne o moral hazard dado que dívidas acima de 60% do PIB teriam de ser cobertas por dívida pública nacional e pagariam taxas de juro mais altas que a dívida europeia. Outro mecanismo financeiro de auxílio a países em crise é a regulaçao bancária europeia discutida actualmente, o que coloca o ónus de salvar bancos sobre todos os membros da zona euro.

Todavia, gostaria de chamar a atençao que os EUA tem um sistema fiscal federal que paga pensoes, subsidios de medicamentos, e subsidios de desemprego. Este é um mecanismo importante de transferencias sociais e partilha de risco em tempos de crise e que ainda está ausente da Europa. Assim, eu diria que em geraçoes futuras iremos construir um Estado social europeu. Claro, existem diferentes sistemas de transferencias sociais para pensoes e subsidios de desemprego em países diferentes. Por exemplo, alguns países pagam subsidios de desemprego até 6 meses outros até 12 meses ou mais. Nas pensoes, alguns países pagam 65% do salário para descontos e outros 80%. 

Todavia, um mecanismo de transferencia social europeu nao necessita de uma harmonizacao completa. Este poderia ser um sistema complementario aos dos estados nacionais e nao um substituto. Por exemplo, uma parte do IVA de cada país iria financiar o orçamento europeu comum e deste orçamento iria-se pagar os primeiros 3 meses de subsidio de desemprego, 20% dos custos dos medicamentos, ou 10% das reformas dos cidadaos de cada país. Idealmente, o sistema europeu só pagaria parte dos custos sociais, de forma a prevenir moral hazard. Note-se que ainda que a maioria dos Estados europeus tenha taxas de desemprego muito diferentes, a taxa de experiencias de desemprego com duraçao inferior a 3 meses é bem similar em toda a Europa (logo nao existiriam uns países a beneficiar mais que outros). Este sistema europeu seria um mecanismo que iria garantir alguma estabilidade social e partilha de risco a nível europeu sem implicar uma uniao fiscal completa ou uma uniao política. Teria o benefício de ajudar os países nos seus piores momentos de recessao e assegurar a solidariedade social mínima aos seus cidadaos frente a uma crise prolongada.

Sei que estamos actualmente muito longe deste sistema social europeu, mas na minha perspectiva pessoal vai ser nisto que a Europa vai avançar dentro de 30 anos.

Carlos Madeira
Economista do Banco Central do Chile
O artigo reflecta meramente a opiniao pessoal do seu autor.

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