segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Simplificar o IVA baixando o IRC


Hoje o IVA tem várias taxas, com diferenciação nem sempre muito clara. As receitas previstas no OE de 2013 são de 13 300 milhões de euros (37% da receita total de 35 947 milhões de euros de impostos directos e indirectos previstos no OE2013).
Se o Estado decidir simplificar o IVA, criando apenas uma taxa para todos os produtos e serviços, precisa de uma taxa de cerca de 16-17% (não encontrei o estudo, mas há vários artigos na imprensa de economistas a defender isto). Vamos assumir o caso pior: 17% em todos os produtos. Vamos também assumir que todos os outros impostos indirectos se mantinham como na proposta do OE2013.
Espanha, como fui chamado à atenção, tem uma taxa de IVA de 21% para a generalidade dos produtos (Turismo, Transportes e bens de primeira necessidade respectivamente 8, 10 e 4%). Vamos portanto assumir que não podemos aumentar o IVA acima dos 21% sem ter uma debandada de compras para Espanha (algo que apesar de tudo considero marginal, visto que os Distritos próximos de Espanha já o fazem e o efeito desta alteração não proporcionar um ganho incremental relevante para os que não fazem).
O Estado português, caso implementa-se uma taxa de IVA única nos 21%, teria uma receita adicional de 3 100 milhões de euros. 
É verdade que parte desta receita não se verificaria por retracção de algum consumo nos produtos de taxas mais baixas. Pela mesma ordem de razão algum consumo de produtos hoje taxados a 23% aumentaria, mas sendo este um tempo de crise provavelmente não suficiente para compensar a retracção nos bens de taxas mais baixas. Como estes efeitos são bastante complexos e a função desta analise não é quantificar de forma rigorosa mas dar uma ideia de direcção, vamos ignorá-los.
Estando a economia portuguesa já muito sobrecarregada com impostos, faria sentido que esta receita adicional fosse compensada com uma redução de outros impostos. O IRS poderia ser abatido em 8 pontos percentuais face ao peso nas receitas (de 33 para 24% do valor total das receitas). No entanto, tendo este OE já alguns factores de risco na parte da receita e sendo o IRS uma das linhas de receita com mais certezas, não me parece que seria uma boa ideia abater este valor aqui. Aumentar o risco de falhanço nas previsões de receita é algo que o Governo não pode assumir.

Ficamos com o IRC. Este poderia ver um abatimento de 9 pontos percentuais (de 13 para 4% - give or take). Quais os efeitos possíveis disto?
1) As empresas viam a sua carga fiscal reduzida, o que permitia dar-lhes uma bolha de ar para respirar, logo menos empresas faliam;
2) Com viam a sua carga fiscal reduzida podiam usar essa folga para investir, consumir, contratar, distribuir… qualquer que fosse a opção seria sempre benéfico para a economia. Mais investimento, mais consumo, mais emprego, mais dividendos para taxar.

É fácil fazer esta transição? Provavelmente não, mas sem medidas deste tipo, que simplificam o funcionamento da máquina fiscal e dão mais apoio às empresas, não vamos a lugar algum. E no fim quem é que fica a perder? Ninguém, porque mesmo que os "porcos capitalistas" decidam distribuir dividendos, estes serão apanhados em sede de IRS mais tarde ou mais cedo, especialmente se ao mesmo tempo se criar regras de distribuição de dividendos.


Uma conta facciosa (e que não deve ser feita assim) pode ser: 3100/14/800=280. 280 mil unidades equivalentes de emprego médio por conta de outrem (800 salário médio de trabalhadores por conta de outrem, 14 meses, 3100kM€ de poupança nas empresas). E sim, eu sei que não acontecia assim, mas é uma poupança enorme para as empresas e uma fonte de receita mais eficiente (é mais difícil fugir ao IVA do que ao IRC).

Claro que esta medida carece de clarificação de imensos pormenores. Como não sou governante não me cabe a mim resolvê-los, mas nenhum desses pormenores me parece especialmente difícil de resolver.

22 comentários:

José Lapalice disse...

É uma ideia idiota por várias razões. Foco-me só em duas:
a) fronteiras livres que permitem livre circulação de bens. Por exemplo, todo o sector alimentar português seria aniquilado com uma taxa de iva de 21%, pois a diferença para os 4% de Espanha mais do que compensa os custos de transporte.

b) a mais relevante. é absolutamente imoral e ignóbil sugerir que bens absolutamente fundamentais à sobrevivência humana (pão, arroz, vegetais, etc) paguem 21% de imposto. há pessoas pobres. P-O-B-R-E-S. cuja preocupação não é IRS ou IRC. é sobreviver.

Pedro Antunes disse...

Lapalice,

O teu comentário é simplista. O offset desta receita no IRC iria dar mais força às empresas nacionais, logo iria garantir a sobrevivência de mais empresas, o que significa garantir mais emprego. As pessoas pobres para comer precisam de um emprego.

a) O número de pessoas que vão a Espanha comprar por causa do IVA é marginal. Mesmo que fossem todos (ca. 600k) a questão é mais: qual o impacto incremental desta política, que assumi não saber, mas que penso ser marginal.
Se comprares em Espanha e vieres vender em Portugal para evitar IVA chama-se a isso contrabando e fraude fiscal.
Se estiveres a falar em comprar em Espanha para vender, com IVA, ao consumidor final isso nem tem impacto no consumidor final, apenas tem em tesouraria. Como podes ver eu até digo que o IVA deve ser pago quando recebes e não quando facturas, resolvendo o problema de tesouraria.

b) Imoral é teres uma política fiscal que mata Empresas e a iniciativa privada. O relevante não é o preço dos bens mas a capacidade das pessoas para os comprar. Para terem capacidade para comprar têm de ter emprego e para isso temos de ter Empresas. Não é o Estado que safa os pobres, é a iniciativa privada.
Esse argumentário socialista diz-me muito pouco e soa bem num discurso demagógico para pessoa menos informadas.

Pedro Antunes disse...

É essa ideia de dar espaço às empresas que me faz preferir abater no IRC a abater no IRS.

José Lapalice disse...

És um caso perdido.
Com um diferencial de IVA de 4% para 17% nos bens básicos, uma enorme maioria das pessoas que tenham automóvel iriam a Espanha abastecer-se para o mês. Isso não é contrabando. E quanto a contrabando, gostava de saber como controlarias isso com fronteiras abertas.

b) imoral sim. uma pessoa que se diz liberal a defender aumentos de impostos enormes em bens de primeira necessidade alimentar. Existem centenas de milhar de pessoas em Portugal com um rendimento de 200 eur mensais ou menos. Oxalá nem tu nem ninguém da tua família esteja nessa situação. E há pessoas que não podem ter um emprego, porque estão reformadas.

Pedro Antunes disse...

Absurdo. Alguma vez um Lisboeta vai fazer 300 km para comprar bens essenciais!!! São pelo 30€ de gasolina, mais portagens, mais um dia perdido, mais desgaste do automóvel. Só para compras de mais de 300 euros é que isso faria o mínimo sentido e mesmo assim só se assumirmos preços de bens equivalentes (sem IVA).

O contrabando não o vais controlar, mas como disse parece-me que é marginal face ao que tens agora, mas este aspecto nem eu nem tu podemos saber sem um estudo sério. Atenção que nos cash and carry controlas as questões do contrabando com alguma eficiência (já fui KAM dessa área e vi isso acontecer com bebidas alcoólicas).

b) Lê o que escrevi. Eu defendo uma simplificação dos impostos. Na minha proposta a carga fiscal total não é alterada, aliás pode até haver uma eficiência fiscal que reduz o custo de cobrança de imposto e a captura de mais imposto via a distribuição de impostos.
Não percebo como é que o status quo assume uma maior defesa de pessoas com baixos rendimentos face à alteração de que estou a falar.

Demagogia é que é imoral. Eu escrevi: "Claro que esta medida carece de clarificação de imensos pormenores. Como não sou governante não me cabe a mim resolvê-los, mas nenhum desses pormenores me parece especialmente difícil de resolver." Uma questão que merecia alguma atenção podia estar relacionada com reformados, pensionistas e afins, com cupões de consumo e outras soluções. Não me culpes a mim pela tua falta de imaginação! :)

José Lapalice disse...

Ah bom, pertences ao clube das pessoas para quem Portugal é Lisboa. Faz sentido. Vá lá não ser o bairro de Campo de Ourique.

Se achas que o contrabando seria marginal e se já foste KAM, então pronto, não perco mais tempo. É a tua opinião.


b) olha, eu também tenho uma ideia. Tenho a ideia de conseguir que a produção agrícola duplique, pois assim existirá menos fome no mundo e as pessoas são mais felizes. Como se fará, não me cabe a mim dizer. Eu só dou a ideia. Não me ocupo com coisas comezinhas como a validade da implementação da ideia. São pormenores, como a política fiscal de um país se trata de .........pormenores.

O que eu leio da tua ideia é que queres que bens alimentares básicos paguem 17% de IVA, para baixar o IRC.

José Lapalice disse...

Mas claramente cupões de consumo, ou talvez mesmo imagino eu senhas de racionamento são uma solução simplificadora da sociedade e nada socialista. Bravo. Bravíssimo.

Pedro Antunes disse...

Ó Lapalice, que gostes de andar a discutir no vazio fantástico, mas ao menos não sejas faccioso.

1. Usei Lisboetas porque sou de Lisboa (esta tua acusação mostra mais um preconceito teu do que uma opinião minha). Como são outros 3M de pessoas. E uso Lisboa no sentido lato. Podia ter usado outro exemplo. O facto é que ~70% da População portuguesa se pode rever no exemplo que dei. Se não forem 300km será outra distância. Se não forem 30 euros de gasolina será outro valor. No fim estamos sempre a falar da viagem a Espanha só fazer sentido para o valor de compras de um mês ou mais.

2. Não acho que o contrabando seria marginal. Falei sempre numa análise incremental daí a expressão que usei "face ao que tens agora". Ver: http://www.unf.edu/~dtanner/dtch/dt_ch11.htm

3. (b) Eu concretizei uma ideia e deixei de fora os pormenores (taxa única IVA, valorizei para a situação actual e expliquei porque é que devia ser usado para abater no IRC em vez do IRS). Não me parece que tenha deixado de fora a implementação da ideia, já que todos sabemos como é que se altera uma taxa do IVA. Posso até defender que não seria preciso qualquer plano de apoio aos mais pobres, defendendo que a recuperação das empresas iria tratar disso. Isso seria uma opinião e como não tenho dados agora para a suportar estaria, como escrevi, mais do que disposto a que se analisassem alternativas para mitigar o impacto de curto-prazo (já que no longo-prazo me parece que seria benéfico).
Já mandar uma ideia para o ar, como no teu exemplo, sem dizer como e focado na parte errada do problema é que invalida uma ideia, não a ausência de clarificação de pormenores. Já agora: A produção agrícola mundial já suporta qualquer coisa como 8-9 mil milhões de pessoas, havendo excessos produtivos na ordem dos 20-30%. O problema não é produção é a distribuição. Ver relatórios da FAO.

Mais uma vez não leste o que escrevi. A minha proposta não é 17% para bens alimentares básicos. É uma taxa única para tudo. Depois quantifiquei para o caso actual com os 17% (os estudos indicam 16-18% seria a taxa necessária para garantir receita idêntica). Disse depois também que seria interessante aumentar essa taxa de IVA, na ACTUAL SITUAÇÃO, para reduzir IRS ou IRC. Expliquem depois que preferia que tal redução fosse no IRC do que no IRS por uma questão de eficiência fiscal. Desculpa lá se não expliquei questões de como o Estado ia reforçar os programas de apoio aos mais pobres, mas parece-me que a minha explicação é bastante completa para o objectivo que tinha: explicar que podemos simplificar o IVA e reduzir o IRC.
Podes não concordar, achar imoral, insultar o que quiseres, mas não podes dizer que não fui bastante completo na minha sugestão.

Já agora os cupões de consumo: "Uma questão que merecia alguma atenção podia estar relacionada com reformados, pensionistas e afins, com cupões de consumo e outras soluções. Não me culpes a mim pela tua falta de imaginação!" Não lês em parte alguma que cupões são a solução que advogo, certo? No máximo lês que estaria disposto a por isso em cima da mesa. Percebes a diferença? Se funcionar muito bem (como funciona em alguns países bem mais liberais do que nós). Não é com soluções tipicamente propostas por socialistas (no sentido Marxista e não PS) com que implico, é o argumentário demagógico.

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
José Lapalice disse...

Eu li o que escreveste. Taxa única. E a principal consequência que tiro disso é que os bens alimentares básicos passariam a ter IVA a 17%.

E melhor ainda, na versão de taxa única de IVA a 21%, a ideia ainda vai para além do pensamento que Borges teve com a TSU. Borges defendia reduzir salários para dar esse valor aos empresários.
A tua proposta é, entre outras coisas, aumentar o preço da comida para reduzir o IRC. Espero bem que o Borges e Vitor Louçã não sejam leitores do blog senão ainda ficam com mais macaquinhos nas suas cabeças.

Pedro Antunes disse...

Lapalice, sim passariam, mas outros bens passariam a ter IVA de 21% em vez de 23% (ou 17% se não se fizer o aumento).

Não sei se já te deste ao trabalho de ver a lista de produtos sujeitos à taxa reduzida e intermédia. Se a mesma fosse:
- Taxa reduzida: Pão, Leite simples, Azeite, Fruta, Carne, Peixe, Legumes, Arroz e Batata (não processados);
- Outras Taxas: Todos os outros produtos.

Eu até comia a ideia! Era mesmo o essencial! Mas não é! Desde leite com chocolate até jornais!!! Pior, Alojamento em estabelecimentos do tipo hoteleiro!!! (por acaso julgava que esta última já não era, mas é o que está no portal das finanças - http://info.portaldasfinancas.gov.pt/pt/informacao_fiscal/codigos_tributarios/civa_rep/c_iva_listas.htm)

A questão do IRC é simples: sem esse fardo as empresas tornam-se mais competitivas, de facto, face ao exterior. Também garantes que há mais investimento, distribuição de dividendos e afins.
A questão do "tirar ao povo para dar ao capital" é uma ficção. No fim todo o valor vai ter aos bolsos de uma pessoa que paga IRS.

Pedro Antunes disse...

Já agora só uma questão: o que é para ti bens essenciais? É que tens limitado aos bens alimentares, mas não me parece que seja só isso.

José Lapalice disse...

Bens essenciais à sobrevivência são os bens alimentares que constituem aquilo sem o qual não é possível ao ser humano viver de forma saudável. Tudo o resto não é essencial para sobreviver.
E sim, vi a lista na diagonal porque também não a sei de cor. E sei que há lá bens que não deviam ter taxa reduzida.

Recapitulando, cereais, carnes, peixe, leite simples, ovos, azeite, frutas frescas, legumes, água, sal, passariam de ter uma taxa de iva de 6% para 21%. E esse aumento de receita iria contribuir para baixar o IRC.

E isto para ti é uma boa ideia para a sociedade portuguesa numa altura de decréscimo do PIB, de perda de rendimento disponível, num país com a % de pobres que Portugal tem e com fronteiras abertas.

Mais adjectivos para quê. É uma ideia que não deixa dúvidas quanto à sua qualidade.

Pedro Antunes disse...

E medicamentos? E roupa?

E todos os tipos de fruta? Há fruta de consumo de luxo. E todos os tipos de carne e peixe? Qualquer azeite? Água engarrafada também?

Nunca conseguias ter uma lista aceitável porque o conceito de "essencial" não é objectivo.

Já agora, Portugal está num processo de decréscimo do PIB acima de tudo por causa do peso do Estado e um sector empresarial fraco. Eliminar o IRC tratava, em parte, da segunda questão.

Pedro Antunes disse...

Não tentes atacar os sintomas, ataca a doença!

José Lapalice disse...

Eu não preciso de varrer todos os bens sujeitos a IVA para emitir opinião contra uma taxa única de IVA a 17 ou 21%.

O Estado tem um peso excessivo, então toca a aumentar brutalmente o IVA sobre a comida para baixar o IRC. Isto é puro nonsense económico e social.

Ps: http://en.wikipedia.org/wiki/Value_added_tax . Dos países da UE, só a Dinamarca tem uma taxa única de IVA. Todos os outros parecem ter sido capazes de elaborar uma lista de bens passíveis de ter taxa reduzida de IVA. Espanha 4%. Alemanha 7%. Reino Unido: " 0% for life necessities – groceries, water, prescription medications, medical supplies and equipment, children clothing, public transport, books and periodicals".

Ps2: http://databank.worldbank.org/databank/download/GNIPC.pdf . Para se ver a diferença entre Dinamarca e Portugal no que a rendimento diz respeito.

Pedro Antunes disse...

Nem eu disse que tinhas de o fazer. O que eu digo é que essa ideia de "bens essenciais" não é objectiva e pode-se sempre adicionar. Esse é o problema destas listas.

E nós até estamos de acordo com uma coisa: seria melhor se o OE2013 atacasse mais a despesa por forma a poder baixar os impostos.
Mas também terás de concordar que, enquanto o povo português não perceber que para isso é preciso despedir Funcionários Públicos, alterar de forma substantiva os serviços do Estado (saúde, educação, segurança e afins) e que atacar as questões de 230 ou 180 deputados e os seus carros ou mesmo as PPP não resolve a questão estrutural, nenhum governo em democracia vai conseguir resolver os nossos problemas.

Idealmente, para mim, teríamos um sistema fiscal de dois impostos (IRS e IVA), com uma carga fiscal global nunca superior a 30% da riqueza produzida!

José Lapalice disse...

Aumentar de forma medieval o preço da comida não é alternativa à dificuldade de despedir funcionários públicos e reduzir pensões de reforma baseadas em cálculos abusivos. Pelo menos em democracia.

Pedro Antunes disse...

Mas também terás de concordar que, enquanto o povo português não perceber que para isso é preciso despedir Funcionários Públicos, alterar de forma substantiva os serviços do Estado (saúde, educação, segurança e afins) e que atacar as questões de 230 ou 180 deputados e os seus carros ou mesmo as PPP não resolve a questão estrutural, nenhum governo em democracia vai conseguir resolver os nossos problemas.

José Lapalice disse...

Desde o início deste blog que faço questão de referir sempre que adequado a inevitabilidade de despedir funcionários públicos para resolver os problemas estruturais de Portugal.
Mas não começava a reduzir funcionários pela saúde. O sítio que considero indicado para iniciar despedimentos é em institutos, empresas públicas, câmaras municipais.
Isso dos governos e partidos falarem que reduzir FPs tem de ser na saúde, é um bicho papão para não se discutir o assunto.

Pedro Antunes disse...

Lapalice, eu falei em despedir FPs (não especifiquei onde, mas tenho a minha opinião e não é especialmente divergente da tua, apesar de também incluir a saúde, a educação e outros sectores), falei em alterar de forma substantiva os serviços do Estado (o que não é o mesmo do que o ponto anterior, nem é necessariamente reduzir mas simplesmente tornar mais eficientes).
Nunca ouvi um partido a dizer que querem reduzir FPs a sério, especialmente não na saúde! Mas pode ser que alguém o tenha dito.

O problema que temos é estrutural do nosso Estado, nem é da nossa economia em si. No entanto continuamos, enquanto povo, a exigir serviços e apoios subsidiados pelo Estado e à espera que isso não se reflicta na carga fiscal!

Carlos Madeira disse...

Eu queria aqui dizer que nestes pontos estou perfeitamente de acordo com o Pedro Antunes.

1) O IVA é de acordo a vários estudos o imposto mais eficiente que existe, tanto no curto prazo como a largo prazo. Logo faz sentido utilizar mais IVA e menos dos outros impostos. Existem vários estudos da economista Isabel Horta Correia do Banco de Portugal sobre isto.

2) Existem países que tem apenas uma taxa de IVA. O Chile, por exemplo, tem 19% para tudo, exactamente para impedir os lobbies de cada produto e a complicaçao do sistema.

3) Concordo com o Pedro Antunes de que a fuga de compras para Espanha poderia existir, mas seria muito pequena. Dado o número de pessoas que vive perto da fronteiro é literalmente fantasia dizer o contrário.

4) A ideia dos cupoes de alimentos do Antunes é muito boa. Um dos argumentos contra o IVA é nao ser "progressivo". Mas reduzir a taxa de IVA para alimentos é uma forma cara de introduzir progressao, porque tens de reduzir a taxa para todos, pobres, classe média, e ricos.

Os cupoes de alimentos introduzem justiça progressiva no sistema e sao dirigidos directamente às familias mais desfavorecidas, logo custam menos dinheiro que reduzir o IVA. Isto nao tem nada a ver com racionamento de bens, ao contrário do que diz o Lapalice. Os cupoes sao usados pelas familias pobres para apoiar o seu orçamento. Mas nenhuma familia está obrigada a comprar apenas com cupoes! Ou seja, nao existe racionamento porque podes comprar mais do que os cupoes que tens. Na segunda guerra mundial existia racionamento, ou seja nao podias comprar mais do que os cupoes que tinhas.

Actualmente, nos EUA muitos Estados dao cupoes de alimentos aos pobres (para os impedir de usar dinheiro em drogas e alcóol), mas nao existe nenhum racionamento associado a estas medidas.