segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O Impacto da Crise no Bem-estar dos Portugueses

Na passada quinta-feira, dia 25 Outubro, a SEDES –Associação para o Desenvolvimento Económico Social promoveu um debate para lançamento público do seu mais recente estudo denominado: O Impacto da Crise no Bem-estar dos Portugueses
Dado que este tipo de debates não passa nos canais televisivos nem na rádio, tomo a liberdade de partilhar as minhas notas com os leitores interessados.

No debate participaram Alexandre Relvas, Luis Varennes e João Salgueiro que foram previamente apresentados por Luis Campos e Cunha.
Os três membros da mesa utilizaram o estudo como mote para dar o seu ponto de vista relativamente à situação económico-social e política do país.

Alexandre Relvas foi o mais optimista, com a justificação da alteração da balança comercial com o exterior e pelos resultados obtidos nos rankings do World Economic Forum. Ainda assim, referiu que é necessário reduzir os custos de contexto para melhorar a competitividade. Identificou um conjunto de constrangimentos como a concorrência diminuta em alguns sectores, a demora da justiça, os custos elevados da energia e a dificuldade de acesso ao crédito para algumas empresas. Como desafios para o futuro deixou algumas ideias como o regresso das encomendas firmes de exportação, a transformação de créditos bancários por capital das empresas, a necessidade do Estado liquidar todas as suas dívidas, a possibilidade dos empresários fazerem encontro de contas com o Estado (por exemplo IVA vs Segurança Social), a alteração nos procedimentos na tributação de juros de suprimentos, a contratualização dos apoios comunitários com rapidez, os incentivos à aplicação dos lucros e amortizações, a possibilidade de amortizar o goodwill e a redução da TSU pela criação de postos de trabalho.

Luis Varennes deixou uma visão mais pessimista da realidade portuguesa através de uma análise SWOT. Como pontos fortes, identificou o ajustamento rápido da balança comercial mas com incerteza quanto à eventual sustentabilidade dos números registados. Referiu ainda a redução da taxa de juro como aspecto positivo e que beneficia a economia. Nos pontos fracos citou a composição errada da consolidação orçamental, a ausência de reformas estruturais (nomeadamente a reforma do Estado e a reforma do mercado de trabalho), a existência de empresas públicas deficitárias e a contração da actividade económica com o inevitável aumento do desemprego.
Nas ameaças englobou a iminente ameaça de ruptura politica com o fim do consenso politico e do consenso social, o colapso das receitas fiscais, o chumbo do Tribunal Constitucional da política económica do Governo e o enquadramento económico internacional negativo. As oportunidades identificadas dizem respeito ao factor crise como potenciador da mudança do papel do Estado, do papel da sociedade e do papel das empresas. Luis Varennes reivindica um maior papel para a sociedade e a necessidade de definir vários parâmetros da actuação do Estado em três níveis distintos: O primeiro respeitante às funções vitais do Estado como a Justiça, as Forças Armadas e a Fiscalidade; o segundo sobre as funções públicas mas que podem eventualmente serem tratadas no domínio privado como a saúde, a educação e a política económica; e um terceiro sobre as actividades não essenciais ou a existência de monopólios.
Para finalizar deixou um alerta sobre a necessidade do regime de trabalho privado ser igual ao sector público como forma de maximizar a eficiência e a igualdade entre os cidadãos.

João Salgueiro iniciou a sua intervenção com duas perguntas: Porque foi possível acumular desgraças e erros durante uma década? E Porque é que os cidadãos não se indignaram antes?
Deu ainda algumas explicações sobre o comportamento das Instituições Financeiras, nomeadamente na grande exposição dos balanços ao sector imobiliário e deixou um alerta sobre o pós MoU: João Salgueiro chamou à atenção de que, se tudo correr bem com o cumprimento das medidas do MoU e se Portugal regressar aos mercados após este período, nessa data estaremos pior do que antes porque não podemos voltar a ter deficits de 10% ao ano.
Para João Salgueiro, a actual situação económico-financeira não é uma crise mas sim uma derrota, a segunda da sua geração após uma descolonização falhada.
Como ameaça identificou que a divida das empresas públicas não faz parte do MoU e considerou que o nosso modelo económico e o modelo económico do MoU não são viáveis porque temos de atrair investimentos produtivos e necessitamos de melhorar áreas como a burocracia, a Justiça ou a Fiscalidade. Os pagamentos públicos atrasados foram novamente identificados como aspecto negativo e sugeriu a criação de um banco de fomento público. Criticou o aumento do IMI porque não terá qualquer efeito no défice mas apenas aumentará o orçamento das autarquias e o despesismo em activos não fundamentais.

No final, e na sequência de uma questão colocada pelo Senhor Professor José António Girão, todos concordaram que o sistema politico vigente tem uma grande quota-parte da responsabilidade pela má qualidade da gestão dos activos e passivos públicos e que deve ser repensado para evitar problemas futuros e com objectivo de melhorar a eficiência da governação do país!

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