quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Foi o Ministro das Finanças empurrado para fazer um anúncio que não deveria ser seu?


A vida politica é feita de simbologias, pequenos pormenores muitas vezes passados despercebidos mas que fazem toda a diferença. São as posições das bandeiras, o pin na lapela, o timming da intervenção, a cor da gravata, a posição das mãos ou mesmo o interlocutor escolhido para determinado anúncio.

Estes aspectos podem ser indiferentes à maioria dos cidadãos mas são detalhes que determinam uma certa predisposição para passar esta ou aquela mensagem com um determinado objectivo.
Não se trata de uma teoria da conspiração mas sim a simples constatação que em politica a forma tem de estar de braços dados com o conteúdo e que nada pode acontecer por acaso.
Assim, muito me espanta que o Primeiro Ministro, que sempre afirmou que seria ele próprio a anunciar medidas de austeridade, tenha agora "solicitado" ao Ministro das Finanças para ser ele o mensageiro de tão pesado fardo social.
Com este anúncio politico, é verdade que o primeiro Ministro se “protege” mas não é menos verdade que catapulta o Ministro das finanças para uma desautorização implícita do chefe de Governo na alteração às medidas veiculadas por este último! Para além disso, a partir de hoje, o 1º Ministro não poderá continuar a afirmar que manteve a sua palavra em ser ele próprio a dar a cara pela austeridade.

Creio que esta simbologia política é mais do que um sinal numa coligação com uma agenda politica difícil. É sobretudo um ponto de viragem no Governo em que o 1º Ministro se tentará salvaguardar ao máximo, empurrando os seus responsáveis ministeriais para serem a cara das medidas impostas aos cidadãos, deixando ao cargo do Primeiro Ministro uma função supra ministerial de coordenação politica mas sem exposição mediática nos assuntos quentes.

São caminhos arriscados mas parece-me interessante assinalar este ponto de inflexão na Governação do Estado!


3 comentários:

Anónimo disse...

Acho que estamos aqui a cair no proverbial "fait diver" (AKA "fat diver" - http://eyebleaching.blogspot.pt/2010/05/fat-diver.html )

Nuno Vaz da Silva disse...

Caro anónimo, a gestão politica é feita de fait divers, alguns com significado outros nem tanto. Neste em especifico, parece-me mais um marco na forma de governação e que tem um significado politico para além do banal fait-diver que alimenta as manchetes de jornal e que pretende esconder outros assuntos mais relevantes mas menos "politicamente interessantes"...

Paulo Ribeiro disse...

Depois da desastrada gestão do dossier TSU, é natural que o PM se resguarde de dar mais notícias de austeridade aos portugueses.
Eu confesso que não conheço todas as pessoas que estiveram sentadas na mesa da conferência de imprensa, mas alguém me poderá dizer se havia membros do PP? Isso sim, seria também um fato dogno de nota...