Estimados, eu li esta segunda-feira este artigo do Bill
Clinton na Time, A aposta no optimismo. Clinton recorda-nos de uma verdade extraordinaria
do mundo de hoje, que é o estarmos a viver um processo de mudanca e progresso
nunca antes visto na Historia da humanidade. Isto é um tema muito desenvolvido
por historiadores económicos como o recentemente falecido Angus Maddison ou o
meu professor Joel Mokyr. Se pensarmos em PIB total do mundo como uma medida do
que se produz e do avanco da historia, entao mais de 20% da historia mundial
(os Ipads inventados, software, televisores de alta precisao) ocorreu neste
nosso século 21:
Penso que o Bill Clinton escreveu um artigo excelente e
que nos recorda disso mesmo. Existem grandes progressos feitos até no Terceiro
Mundo e continentes que só pareciam trazer noticias de desgraca. Sim, ainda
existe muita gente na pobreza, muita gente morrendo de doencas que já deviam
estar eliminadas há muito tempo se os seus Estados tivessem a decencia de
gastar 4 ou 5 dólares pela saúde de cada crianca em vez de armas. Mas também
existe cada vez mais progresso. Clinton menciona 5:
1 – A expansao de servicos financeiros e de informacao no
Terceiro Mundo através do uso dos telemoveis. Sim, em países ricos nós usamos
esses mini-computadores mais poderosos que toda a Nasa dos anos 70 para guardar
fotos da namorada; mas há quem use esses aparelhos preciosos e cada vez mais
baratos como uma sucursal de banco portátil. Eu já tinha assistido em Abril a
uma apresentacao deste fenómeno no Kenya por Roberto Rigobon do MIT, quando fui
convidado para o encontro de Economistas da América Latina e Rede de Pobreza
organizado pelo Banco Mundial em Nova York. Rigobon mostrou que no Kenya a taxa
de telemoveis por família passou de menos de 5% a 90% em apenas um ano. Esta é
uma das difusoes tecnologicas mais rápidas da Historia! O Terceiro Mundo deu um
pulo de gigante para o século 21. Actualmente, pessoas que vivem isoladas em
quintas agricolas longe das cidades tem acesso a servicos financeiros da
Vodafone a um custo de um centimo por dia. A Vodafone já expandiu este sistema
financeiro para a América Latina. Rigobon brincou na altura que os economistas
veem perigos em todas as partes, mas nunca veem as coisas boas.
Eu diria que num futuro próximo também vai haver acesso a
diagnosticos médicos e servicos de educacao via telemóvel, uma revolucao
tecnológica que vai ocorrer talvez em apenas 15 anos.
2 – Queda drástica na producao de medicamentos anti-HIV e
melhoria da saúde a todos os niveis. Agora também falta investir mais em
doencas básicas com cura, como a elefantiase, tuberculose, ou vermes de
estomago. Estas coisas sao faceis de curar com um comprimido ou injeccao por
ano com um custo inferior a 1 euro por crianca, e economistas como Michael
Kremer tem mostrado que os ganhos na escolaridade das criancas beneficiadas sao
enormes.
3 – A revolucao da energia verde. Aqui eu sou menos
optimista que o Bill Clinton. Sim, a eficiencia dos paineis solares está a
crescer a um ritmo de 7% ao ano, mas vai levar duas décadas até ser
comercialmente rentável. A energia eólica já é eficiente e comercialmente
rentável, daí a aposta da EDP e do Engenheiro Sócrates, ainda que a aposta teve
menos sucesso do que se esperava.
4 – A proporcao de mulheres representadas no Governo dos
seus países aumenta em todas as partes, incluindo em países sub-desenvolvidos
como o Ruanda.
5 – A paz no mundo, apesar de diversos conflitos armadas
e outros historicamente insoluveis (caso do Médio Oriente), segue aumentando. O
Greenspan falava no seu livro, A Era da Turbulencia, que o fim da Uniao
Sovietica em 1990 trouxe um crescimento económico positivo devido ao “dividendo
da paz”. Esperemos que este dividendo da paz continue aumentando.
Carlos
Madeira
Economista
do Banco Central do Chile
O
artigo reflecte meramente a opinião pessoal do seu autor.
2 comentários:
Eu também gosto de ser optimista e por isso mesmo aposto mais em factores de desenvolvimento como saída da crise do que em mecanismos de crescimento.
Em relação a estes 5 pontos, gostaria apenas que focassem o aspecto da produção agricola e da sustentabilidade ambiental. É que com a população a crescer e com melhores condições de vida, temos de providenciar um mundo com produção agricola auto-suficiente que dê resposta não só às necessidades como às exigências de uma população que vai adquirindo novos hábitos de consumo.
A producao agricola julgo que nao vai ser um problema. Com as novas variedades modificadas geneticamente, o céu é o limite. Penso que os laboratorios de hoje sao capazes de criar plantas que dao colheitas mais vezes ao ano e que consomem menos nutrientes do solo.
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