O Joao e o Paulo Goncalves iniciaram uma boa
discussao, sobre se Portugal deveria fazer austeridade via aumento de carga
fiscal ou reducao de despesa publica. Eu vejo os argumentos de ambos os lados e
embora nao seja um macroeconomista nem tenha um modelo exacto gostaria de
mencionar um trabalho recente de Christiano, Eichenbaum, e Rebelo (2010):
Os autores revisam diversos modelos macro e encontram que
em recessoes perto do zero-bound de taxa de juro (agora!!!), o multiplicador da
despesa fiscal pode ser bem maior que 1 e chegar a 25 ou até 50. E estes
modelos assumem todos que a despesa fiscal é totalmente inútil, ou seja pior
nao existe. Todo o beneficio da despesa publica aqui vem do multiplicador
keynesiano.
Além disso, como tenho defendido aqui a matemática do
nosso Estado social garante que 75% ou mais dos nossos impostos vao só para
transferencias sociais, logo para os mesmos que sofrem a austeridade! E o
Estado gasta ainda 18.5% do PIB em exercito, policia, educacao, e saúde
gratuita, o tipo de coisas que nao se pode cortar (por obrigacao da Nato,
Constituicao, etc).
Embora seja doutorado da Northwestern, tenho que dizer que
aqui concordo um pouco com a visao do Paulo, ainda que mais por intuicao. Um
diria por intuicao e lógica que em geral combinar duas medidas diferentes é
melhor porque nao exacerba demasiado as desvantagens de cada uma delas, ou seja
um nao quer pecar em demasia. Ora, se já pecamos pelo lado de mais impostos,
corte de pensoes e salarios, talvez fosse bom cortar na despesa pública um
pouco.
Mesmo assim nao julgo que hajam milagres. A salvacao
orcamental vai depender certamente de mais crescimento económico ou de melhores
taxas de juro (quando os mercados acalmarem). Nao tenho dúvidas que mesmo um
ataque super grande na despesa pública que esfole os grupos de interesse e a má
gente nao vai resolver as coisas. Vai melhorar um pouquito apenas... Infelizmente, eu acredito que em Portugal nao
sao os maus que fazem pior. Quem faz o verdadeiro mal sao aqueles que defendem
a Proteccao Laboral, Congelamento de Rendas, a actuacao de Empresas Privilegiadas e regulacoes ineficientes para tudo o
que é negócio. Portugal é uma ditadura islamica para empresas e temos de
perceber que o Investimento Directo Estrangeiro entra se existe facilidade de
empresa e rentabilidade, nao porque somos Bons e Necessitados.
Carlos Madeira
Economista do
Banco Central do Chile
O artigo reflecte
meramente a opinião pessoal do seu autor.
4 comentários:
Sim, concordo contigo.
Nos EUA o Estado financia-se neste momento a taxas de juro zero, o que nao e o caso do estado portugues (logo os multiplicadores potencialmente observados nos EUA na despesa mto provavelmente nao se aplicam a Portugal).
Tb existe alguma evidencia de que para estados mto endividados (como o portugues) os multiplicadores do lado da despesa sao aproximadamente zero ou ate negativos:
http://ideas.repec.org/p/nbr/nberwo/16479.html
Neste link encontra-se uma boa descrição das novas medidas fiscais anunciadas.
http://economiafinancas.com/2012/austeridade-2013-irs-2013-contara-apenas-com-5-novos-escaloes/
Alguns aspectos que acho positivos: a simplificação do IRS por intermédio da redução do número de escalões; as taxas mais elevadas aplicadas ao último escalão de IRS; o facto que o aumento dos impostos afecta também o rendimento dos capitais.
Carlos: em relação ao mercado do trabalho acho que já foram efectuadas reformas substanciais:
http://economia.publico.pt/Noticia/parlamento-debate-hoje-novo-pacote-laboral_1539676
Sim, tb acho a simplificacao da tributacao algo positivo.
E, o governo ja reduziu substancialmente os custos de despedimento (e agora penso que estamos na media da OCDE).
"já foram efectuadas reformas substanciais"
Paulo, já escutamos isso de todos os Governos nos ultimos 20 anos. Depois do debate parlamentar o Governo vai voltar a colocar no projecto lei todos os artigos negativos que existem.
Vai ser como o Ayatolah do Irao a debater a democracia nas ultimas eleicoes...
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